Um dos documentos mais contundentes, o vídeo intitulado “Collateral Murder”, ilustrava soldados americanos atacando civis, inclusive crianças, uma cena que se assemelhava a um jogo de videogame. Tais imagens chocantes contribuíram para uma desilusão coletiva sobre a civilidade supostamente associada às ações dos EUA no exterior.
Em julho deste ano, Julian Assange, fundador do WikiLeaks, foi libertado após anos de prisão no Reino Unido e retornou à sua Austrália natal, após firmar um acordo com as autoridades americanas. A situação de Assange tem sido vista como um reflexo dos limites da liberdade de imprensa nos Estados Unidos, onde informações sensíveis são frequentemente controladas sob a justificativa de segurança nacional.
Especialistas, como o professor Sérgio Amadeu da Silveira, destacam que os documentos divulgados foram autenticados, revelando práticas alarmantes como torturas e ataques a civis, que comprometem a credibilidade dos discursos que enfatizam a luta pela democracia. Amadeu afirma que essa verdade nua e crua derrubou o conceito de “causas nobres” nas intervenções americanas, revelando, em vez disso, interesses econômicos e geopolíticos em jogo.
À medida que o cenário global evolui, os Estados Unidos se veem desafiados por uma crescente interdependência com grandes empresas tecnológicas, que agora desempenham papéis centrais em decisões militares. Essa sinergia entre o complexo militar-industrial e as big techs representa uma nova era de envolvimentos, onde os dados coletados por essas empresas informam procedimentos que antes eram exclusivos das Forças Armadas.
Dentre os muitos desdobramentos, os documentos vazados serviram não apenas para mostrar as atrocidades cometidas, mas também para revelar motivações menos nobres por trás da chamada “guerra ao terrorismo,” como a busca por recursos naturais no Oriente Médio. Com quase três mil telegramas enviados do Brasil, ficou evidente o interesse das petrolíferas pela exploração do pré-sal, o que demonstra que os interesses econômicos têm sido uma constante neste quadro de guerra.
Em retrospectiva, enquanto as narrativas de legitimidade moral se desgastam, as ações dos EUA continuam a ter um impacto global significativo. No entanto, a crescente polarização interna e as críticas ao modelo democrático liberal nos Estados Unidos apresentam desafios inéditos, refletindo uma crise mais ampla na missão que o país se impôs de ser um defensor da liberdade e democracia no mundo. O controle da informação, agora mais contestado, evidencia uma nova realidade onde os interesses antes ocultos estão cada vez mais visíveis, alterando de maneira dramática a forma como se entende a geopolítica contemporânea.