O estudo, fruto de um trabalho de três anos de estudos e observações minuciosas, faz parte do projeto de doutorado da bióloga e utilizou a Modelagem de Nicho Ecológico para projetar os impactos das mudanças climáticas em 24 espécies de pequenos mamíferos na Caatinga até os anos de 2050 e 2070. Os resultados alarmantes indicam uma redução significativa das áreas adequadas para a sobrevivência dessas espécies, com algumas delas enfrentando perdas de até 90% de sua área favorável. O estudo destaca ainda que já há espécies vivendo no limite climático, o que aumenta a pressão sobre sua sobrevivência.
De acordo com a professora Ludmilla, a vulnerabilidade da Caatinga, que é um bioma naturalmente semiárido e já sofre com os impactos da atividade humana, torna-se mais evidente diante das mudanças climáticas extremas e dos processos de desertificação. Nesse cenário, torna-se crucial a realização de estudos que busquem compreender a distribuição atual e futura da diversidade de mamíferos na região, visando identificar áreas estáveis que possam servir como habitats viáveis para essas espécies a longo prazo.
A Caatinga, que ocupa mais de 10% do território nacional e está presente em diversos estados do Nordeste e Sudeste do Brasil, ainda não recebeu o reconhecimento de patrimônio nacional pela Constituição, apesar de ser o único bioma 100% brasileiro. Estudiosos como Ludmilla enfatizam a importância dessas pesquisas para alertar sobre a necessidade de políticas públicas voltadas para a conservação e preservação da fauna e flora da Caatinga diante das mudanças climáticas.
Os impactos negativos dessas mudanças serão mais severos em espécies com ocorrência restrita na Caatinga ou espécies endêmicas, adaptadas a nichos específicos e já enfrentando pressões devido à fragmentação do habitat e atividades humanas. A perda de áreas climaticamente adequadas pode levar a uma diminuição drástica das populações, aumentando consideravelmente o risco de extinção dessas espécies. Sendo assim, a conservação desses mamíferos torna-se ainda mais urgente, demandando estratégias eficazes de manejo e proteção de seus ambientes na Caatinga.
O co-orientador da tese, o professor Ricardo Bovendorp, destaca a relevância do estudo, enfatizando que a Caatinga é o bioma com menor número de estudos sobre biodiversidade no Brasil. Ele ressalta que a pesquisa de Ludmilla é pioneira nesse sentido, fornecendo um panorama abrangente sobre a distribuição das espécies de pequenos mamíferos na Caatinga e como elas serão afetadas pelas mudanças climáticas.
Em suma, o trabalho da professora Ludmilla Pinto não só contribui significativamente para uma melhor compreensão da fauna na Caatinga, mas também para a comunidade acadêmica de forma geral. Com resultados tão expressivos, espera-se que haja um estímulo para a implementação de ações que reconheçam o impacto das mudanças climáticas, especialmente para os pequenos mamíferos, e que garantam a efetiva proteção desse ecossistema tão peculiar e importante para o país.