Trump intensifica disputa comercial com a China, colocando em risco a liderança global rumo a um cenário de desglobalização e novas alianças emergentes.



A recente posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos marca um novo período de tensões nas relações entre os EUA e a China, acentuando uma disputa que já se arrasta desde seu primeiro mandato. O discurso inaugural de Trump foi amplamente caracterizado por um viés protecionista e expansionista, destacando a China e os países do BRICS como alvos centrais de suas políticas.

Essa abordagem, que se contrapõe à estratégia de cooperação promovida por Pequim, revela um desconforto, pois Trump vê na China uma concorrente que tem avançado em influência nas Américas, região tradicionalmente considerada o quintal dos EUA. Os analistas têm discutido as implicações dessa retórica e as possíveis reações da China, que, sob a liderança de Xi Jinping, adotou uma postura mais assertiva e proativa na cena internacional, particularmente em relação às ameaças de Washington.

Renato Ungaretti, especialista em estudos estratégicos, argumenta que a guerra comercial entre os dois países se intensificou nos últimos anos e não se limita ao comércio. “Estamos diante de uma disputa que é também tecnológica e sistêmica”, afirma ele, ao destacar que as tensões podem se intensificar durante o novo governo de Trump, o que teria impactos diretos na economia global e nas cadeias de suprimento de diversas indústrias.

Por outro lado, Diego Pautasso, doutor em relações internacionais, salienta que as estratégias adotadas pelos EUA, desde a administração de Barack Obama com o chamado “pivô asiático”, têm buscado conter a ascensão da China. Ele sugere que a narrativa expansionista de Trump pode levar a uma escalada militar, mas descarta a possibilidade de uma resposta militar direta da China, que privilegiaria ações econômicas e diplomáticas para enfrentar as pressões estadunidenses.

Essas dinâmicas entre superpotências podem ter repercussões sérias não apenas nas relações bilaterais, mas também em um contexto global, onde a interdependência econômica entre EUA e China permanece forte. De acordo com Ungaretti, a tendência de desglobalização e reterritorialização da produção poderá criar um cenário desafiador para os países em desenvolvimento, exacerbando as desigualdades e dificultando o crescimento econômico.

Em suma, o clima de incerteza provocado por essa nova gestão nos EUA poderá acelerar um processo que já é visível: o declínio do domínio do tradicional núcleo do sistema internacional, composto por EUA e Europa Ocidental, e a ascensão de novas demandas e dinâmicas no Sul Global. Time e diplomacia se tornam, assim, fatores cruciais nessa complexa teia de relações. A realidade é que, enquanto as movimentações geopolíticas se intensificam, o velho ordenamento internacional tende a questionar sua própria permanência em face das novas realidades.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!


Botão Voltar ao topo