Spotify e Mercado Livre solicitam alterações em projeto que regula mercados digitais.



As empresas Spotify e Mercado Livre manifestaram suas opiniões em relação ao projeto de lei que visa regulamentar os mercados digitais no Brasil. Durante uma audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados, representantes das duas empresas pediram mudanças no teor do projeto, argumentando que a regulamentação atual pode levar a abusos por parte das grandes empresas dominantes no mercado.

Luizio Felipe Rocha, consultor de relações governamentais do Spotify, destacou a importância de uma regulamentação justa e equilibrada, citando a situação enfrentada pela empresa em relação às taxas cobradas pela Apple por meio de sua loja virtual. Enquanto o Spotify precisa pagar uma taxa de 30% para utilizar o sistema de venda de aplicativos da Apple, concorrentes como a Apple Music e o Uber são isentos dessa taxa. Rocha ressaltou que, mesmo sendo concorrentes, a Apple dá vantagem aos seus próprios serviços no streaming de música. Vale ressaltar que a Apple se recusou a comparecer à audiência pública.

Rocha também questionou a possibilidade de utilizar o critério de receita das empresas como base para a taxação na nova legislação, alegando que isso seria pouco equitativo. Ele argumentou que empresas como Google e Apple poderiam ser isentas de taxas devido à natureza de seus modelos de negócios. Segundo ele, essas grandes plataformas móveis não possuem receitas diretamente atribuíveis, uma vez que a Apple monetiza seu sistema operacional a partir das vendas de iPhones e o Google se beneficia das receitas de publicidade geradas pelos dados coletados em seus dispositivos móveis.

Adriana Cardinali, diretora de Enhanced Marketplace do Mercado Livre, concordou com a posição do Spotify e acrescentou que o Brasil não deve importar modelos de regulamentação de outros países. Ela argumentou que critérios como faturamento e número de inscritos podem mascarar as verdadeiras operações no setor e não medem a concorrência efetiva dos mercados. Cardinali alertou para o risco de regular mercados competitivos desnecessariamente, comparando essa prática a administrar remédios para uma pessoa saudável.

Ricardo Medeiros, economista-adjunto do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), destacou a dificuldade do órgão em obter acesso aos dados necessários para fiscalização. Ele defendeu a aprovação de um projeto que permitiria ao Cade ter acesso aos bancos de dados da Receita Federal, argumentando que isso facilitaria a análise de infracções como cartel e atos de concentração. Atualmente, o Cade precisa pagar ao Serpro para obter dados que são de domínio público.

A relatora do projeto de lei, deputada Any Ortiz, informou que essa foi a terceira audiência pública para discutir a regulamentação do setor e destacou a importância desse debate aprofundado. Ortiz pretende elaborar um texto que garanta competitividade, promoção da concorrência, fomento à inovação, crescimento econômico e direitos dos consumidores e empreendedores. Ainda está previsto um seminário com outros players do mercado para ampliar as discussões sobre o assunto.

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