A Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher (CMCVM) realizou uma audiência pública nesta quarta-feira (22) para discutir os obstáculos enfrentados pelas mulheres negras no acesso a espaços de poder. Diversas debatedoras ressaltaram a importância de políticas públicas, ações afirmativas e educação antirracista para combater a violência de raça e gênero e a desigualdade de representatividade.
Zelma Madeira, secretária de Igualdade Racial do Ceará, destacou a influência histórica dos estereótipos e a naturalização da exploração do corpo negro no contexto capitalista como raízes profundas da violência contra as mulheres negras. Ela também apresentou dados que revelam a baixa representatividade de pessoas negras em cargos de decisão no Executivo federal, onde as mulheres recebem salários 33% menores que os homens.
Madeira ressaltou a necessidade de compreender a sociedade racializada e como ela distribui benefícios e desigualdade. Segundo ela, as mulheres negras habitam as bordas desse sistema e precisam ser reconhecidas por seu papel estratégico na interlocução com setores discriminados.
Manuella Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), enxerga na renovação da lei de cotas uma forma de garantir a representatividade da população nas universidades e distribuir oportunidades para a construção de um Brasil soberano. Ela também apontou o desafio da evasão escolar, que afeta principalmente a juventude negra.
Naiara Fonteles, presidente do coletivo Quintal de Palmares, denunciou a relação do conservadorismo com os altos índices de feminicídio e ataques a lideranças femininas indígenas e de religiões africanas em Mato Grosso do Sul. Ela cobrou políticas públicas para combater o racismo religioso e dar visibilidade aos casos de violência.
As debatedoras também destacaram a influência dos estereótipos na falta de participação de mulheres, especialmente mulheres negras, nas instâncias políticas. Bartolina Ramalho Catanante, presidente do Grupo TEZ, ressaltou a necessidade de ensinar às crianças que é possível construir uma nova sociedade baseada no reconhecimento das potencialidades individuais, e não nos estigmas da sociedade.
Além das debatedoras, a deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) e a presidente da comissão, senadora Augusta Brito (PT-CE), enfatizaram a importância de engajar os homens na pauta do combate à violência contra a mulher e de apoiar as mulheres negras na busca por representatividade e igualdade.
A audiência pública destacou a necessidade de políticas e ações concretas para combater a violência de gênero e raça e garantir a participação ativa das mulheres negras nos espaços decisivos do Brasil. A luta por representatividade, igualdade salarial e combate ao racismo religioso continua sendo uma pauta urgente na sociedade contemporânea.