De acordo com o Ministério da Fazenda, mais de 900 empresas credoras, que representam 86% das dívidas de até R$ 5 mil, aderiram à segunda fase do programa. Nesta etapa, consumidores com renda de até dois salários mínimos ou inscritos no Cadastro Único poderão renegociar contas básicas, como luz e água, além de débitos com varejistas. Vale destacar que o programa tem vigência até dezembro.
Economistas acreditam que a iniciativa terá um impacto positivo no consumo, principalmente dos bens duráveis, que estavam enfrentando dificuldades devido ao mercado de crédito. A expectativa é de que, além da redução da Selic, os juros bancários também diminuam devido ao menor risco de crédito, o que favorece o consumo no último trimestre do ano.
A consultoria MB Associados prevê um aumento no potencial de consumo das famílias no final do ano, facilitando o acesso ao crédito. A estimativa é de um crescimento de 1,5% no consumo das famílias no quarto trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já a XP projeta um aumento de 2,7% no consumo das famílias ao fechamento de 2023.
Na primeira fase do Desenrola, voltada para dívidas bancárias de devedores com renda de até R$ 20 mil, já houve uma melhora nos índices de inadimplência entre pessoas físicas. A segunda fase, que também inclui as dívidas não bancárias, tem expectativa de ter um impacto ainda mais amplo no consumo nos próximos meses.
A LCA Consultores passou a projetar um crescimento de 2,5% no varejo ampliado, que inclui automóveis, graças ao programa do governo, que já foi encerrado, de incentivo ao carro popular. A previsão anterior era de um aumento de 1,3%. Resta aguardar o resultado do comércio em julho para avaliar os impactos que o Desenrola terá.
A primeira fase do programa de renegociação já apresentou resultados positivos, com a renegociação de R$ 11,8 bilhões em dívidas e a regularização de 6 milhões de clientes que tinham pendências de até R$ 100. Em julho, o número de inadimplentes teve a segunda queda consecutiva, com a exclusão de 34 mil pessoas da lista, o que reduziu o total de consumidores com contas em atraso para 71,41 milhões.
As dívidas dos brasileiros com bancos e cartões de crédito também tiveram queda, passando de 31,1% do total em junho para 29,5% em julho, o maior recuo desde janeiro de 2019.
O avanço da segunda fase do Desenrola é uma das estratégias do governo para impulsionar a economia no final do ano, uma vez que outras medidas, como a desoneração de impostos sobre combustíveis e os descontos para a compra de automóveis, ficam fora de cena. A Febraban avalia que o programa, juntamente com outras variáveis importantes, tende a estimular os credores a concederem mais crédito aos consumidores.
No entanto, especialistas alertam que o consumo tende a ser impulsionado principalmente pela redução do custo do crédito com a queda da Selic, e não tanto pelo programa em si, já que o endividamento das famílias ainda é elevado. A expectativa é de que, com juros mais baixos, o consumidor consiga adquirir produtos a preços mais acessíveis e tenha mais dinheiro disponível.
Assim, o Desenrola Brasil deve trazer um certo alívio à situação financeira das famílias, mas não será um impulso significativo ao consumo, considerando o atual panorama de inadimplência, endividamento e comprometimento de renda. O aumento na concessão de crédito dependerá do sucesso do programa nas renegociações e da capacidade das famílias de manterem os pagamentos em dia. Produtos que dependem mais de compras a prazo podem ter um cenário mais favorável.