Em uma nota divulgada nesta sexta-feira (16), ambas as entidades pedem que todas as partes envolvidas nos conflitos em Gaza suspendam as hostilidades por pelo menos sete dias, permitindo, assim, a realização das campanhas de vacinação. “Essas pausas nos combates permitiriam que crianças e famílias chegassem em segurança às unidades de saúde e que agentes comunitários alcançassem crianças que não têm acesso a essas unidades para serem imunizadas contra a poliomielite. Sem as pausas humanitárias, a realização das campanhas não será possível,” declarou a OMS.
A meta das campanhas é imunizar mais de 640 mil crianças menores de 10 anos com a vacina oral contra a pólio, popularmente conhecida como “gotinha”. A preocupação da OMS é urgente, dado que o poliovírus foi detectado em amostras ambientais na Faixa de Gaza em julho. Desde essa descoberta, ao menos três crianças apresentaram sintomas suspeitos de paralisia flácida aguda, comum em casos de poliomielite. Amostras de sangue dessas crianças foram enviadas para análise laboratorial, segundo a OMS.
Para viabilizar a campanha, mais de 1,6 milhão de doses da vacina oral serão entregues na região. As entregas, que incluem também equipamentos de refrigeração, devem ser transportadas pelo aeroporto Ben Gurion, em Israel, antes de seguirem para Gaza no final de agosto. “É essencial que o transporte das doses e dos equipamentos de refrigeração seja facilitado em todas as etapas dessa jornada, para garantir o recebimento em tempo oportuno e a realização da campanha,” enfatizou a OMS. A operação contará com 708 equipes compostas por aproximadamente 2,7 mil profissionais de saúde.
A entidade destacou a importância de alcançar uma cobertura vacinal de pelo menos 95% para interromper a propagação do vírus e mitigar o risco de ressurgimento da doença. O cenário na Faixa de Gaza é particularmente grave, devido aos sistemas de saúde, água e saneamento severamente danificados na região.
A Faixa de Gaza havia se mantido livre da poliomielite por 25 anos, um sucesso agora ameaçado pelo recente ressurgimento da doença. Essa situação representa uma nova ameaça tanto para as crianças de Gaza quanto para os países vizinhos, e somente um cessar-fogo pode garantir a segurança da saúde pública na região, segundo a OMS.
Antes da intensificação dos conflitos em outubro do ano passado, a Faixa de Gaza possuía uma boa cobertura vacinal. Contudo, a vacinação de rotina foi severamente afetada desde então, com a taxa de imunização da segunda dose da pólio caindo de 99% em 2022 para menos de 90% em 2023 e no primeiro trimestre de 2024.
A OMS alerta que o risco de disseminação do vírus, tanto dentro da Faixa de Gaza quanto internacionalmente, permanece alto devido a lacunas na imunidade infantil provocadas por interrupções na vacinação, destruição do sistema de saúde, deslocamentos constantes da população, desnutrição e condições precárias de água e saneamento. A situação exacerba ainda o risco de outras doenças preveníveis por vacinação, como sarampo, além de diarreia, infecções respiratórias agudas, hepatite A e doenças de pele entre as crianças.