Um dos principais aspectos dessa diretriz é a redefinição das metas de tratamento. Em vez de se concentrar apenas na normalização do peso, o foco agora é promover saúde, funcionalidade e qualidade de vida de maneira sustentável. O endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso, destaca que o objetivo é garantir que as metas sejam realistas, como a perda de pelo menos 10% do peso corporal, visando principalmente a melhora de condições associadas à obesidade, como diabetes tipo 2 e hipertensão.
Diferente das abordagens anteriores que se baseavam no Índice de Massa Corporal (IMC), a nova diretriz incentiva uma individualização mais profunda do tratamento, permitindo que os profissionais de saúde considerem não apenas o IMC, mas também características específicas de cada paciente e suas comorbidades. Fernando Gerchman, coordenador do grupo responsável pela elaboração do documento, ressalta que as novas medicações, como liraglutida e semaglutida, têm mostrado resultados promissores em estudos recentes e merecem atenção na prática clínica.
Os profissionais devem estar cientes de que as indicações das medicações são direcionadas a pacientes com IMC acima de 27 que apresentam comorbidades, ou acima de 30 após tentativas de mudança no estilo de vida sem sucesso. A diretriz sugere que, em certos casos, o uso dos medicamentos pode ser iniciado antes das modificações no estilo de vida, sempre em uma decisão compartilhada com o paciente.
Além disso, o documento enfatiza a importância de associar tratamentos farmacológicos a alterações no estilo de vida desde o início do acompanhamento. Os medicamentos trazem benefícios significativos, como a redução de eventos cardiovasculares para pacientes com histórico cardíaco. Também foram abordados fenótipos alimentares, permitindo um tratamento mais direcionado e eficaz, considerando fatores genéticos e sociais.
Outro importante aspecto da diretriz é o reconhecimento da necessidade de abordagens diferenciadas para grupos específicos, como idosos e pessoas com câncer relacionado à obesidade. Essa consideração é fundamental, pois o tratamento adequado pode melhorar a qualidade de vida e potencializar outros tratamentos médicos.
A Abeso destaca que a continuidade do tratamento é crucial, uma vez que a interrupção do uso das medicações pode levar ao retorno do peso perdido. Por fim, a diretriz contraindica a utilização de substâncias não validadas e sublinha a relevância da reavaliação constante durante o acompanhamento dos pacientes.
Com estas novas diretrizes, a Abeso visa proporcionar um tratamento mais eficaz e preciso para a obesidade, incorporando as melhores evidências científicas e promulgar um entendimento mais amplo sobre a condição, sua complexidade e impacto na saúde pública.