SAÚDE – “Médica do Rio de Janeiro opta por dermatologista negro para melhor entendimento das particularidades da pele negra”

No Rio de Janeiro, a médica Júlia Furtado escolheu um dermatologista negro para cuidar de sua pele. A razão por trás dessa escolha é o fato de ela querer ser atendida por alguém que entenda as particularidades da cor de sua pele, alguém que sinta na própria pele, literalmente, o que é ser negro. Júlia acredita que um médico negro terá um melhor entendimento de sua pele, pois ele deve se interessar mais pelas particularidades da cor e compreender as experiências do dia a dia e as queixas específicas. Além disso, ela se sente mais acolhida ao ser tratada por alguém que compartilha das mesmas características que ela.

Cauê Cedar, dermatologista especializado em pele negra, é o profissional que acompanha Júlia. Ele confirma que a identificação é um fator importante que une pacientes e médicos negros. Quando o paciente negro encontra um médico negro, há um sentimento de identificação e acolhimento, pois o profissional representa a sua comunidade.

Apesar da falta de dados que retratam a procura por médicos negros, Cauê acredita que a busca por acolhimento, como no caso de Júlia, é uma tendência que ocorre em toda a medicina. As redes sociais têm contribuído para esse movimento, permitindo que os pacientes encontrem profissionais que se identifiquem com suas vivências e representem a cultura negra. Além disso, há também o fenômeno do “black money”, que impulsiona a procura por profissionais negros e fortalece essa parcela da população.

No entanto, a realidade é que ainda é difícil encontrar médicos negros no país. De acordo com um levantamento, não há uma contabilização oficial da quantidade de médicos negros no Brasil, mas é possível observar essa sub-representatividade nos hospitais e clínicas. Além disso, dados referentes à formação médica mostram que a maioria dos estudantes de medicina é branca, o que reflete a falta de interesse e investimento na saúde da população negra nas faculdades.

Diante desse cenário, iniciativas como a AfroSaúde surgem para preencher essa lacuna. A startup foi fundada por um dentista negro com o objetivo de unir profissionais de saúde negros e pacientes que buscam atendimento especializado. A ideia surgiu a partir de um caso de racismo vivenciado por uma colega dentista, que precisava encaminhar uma paciente para um especialista e preferia alguém negro. Esse incidente revelou a falta de opções de profissionais negros no mercado de saúde.

Arthur Lima, fundador da AfroSaúde, destaca que a falta de interesse na formação médica em saúde da população negra resulta em profissionais que não sabem como cuidar dessa parcela da população. Isso gera disparidades e injustiças estruturais, afetando o acesso a serviços de qualidade, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Negras enfrentam dificuldades no pré-natal, no parto e no puerpério, além de serem vítimas de negação de anestesia, devido ao estereótipo de que são mais resistentes à dor. Na saúde mental, profissionais não negros muitas vezes não compreendem como o racismo influencia no adoecimento mental das pessoas negras.

Diante dessas questões, é compreensível que pessoas negras busquem profissionais de saúde que se assemelhem a elas, pois esses médicos têm maior probabilidade de buscar conhecimento técnico sobre a saúde da população negra e entender como o racismo afeta o bem-estar mental. A representatividade é fundamental para garantir um atendimento adequado e acolhedor para todos.

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