As pessoas que procuram estabelecimentos privados, incluindo clínicas, laboratórios e drogarias, têm enfrentado dificuldades para conseguir o imunizante, que requer a aplicação de duas doses com intervalo de 90 dias.
Na segunda-feira, o laboratório Takeda esclareceu que, com o atual cenário da inclusão da vacina Qdenga no SUS por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), e os registros crescentes da dengue no Brasil, “a empresa está concentrada em atender de forma prioritária ao Ministério da Saúde”. Com isso, a multinacional não fará novos contratos com estados e municípios, assim como o fornecimento da vacina no mercado privado brasileiro “será limitado para suprir e priorizar o quantitativo necessário para que as pessoas que tomaram a primeira dose do imunizante na rede privada completem seu esquema vacinal”.
A Takeda informou que tem garantida a entrega de 6,6 milhões de doses para o ano de 2024 e o provisionamento de mais 9 milhões de doses para 2025, o que representa capacidade de fornecer imunização para 7,8 milhões de pessoas (duas doses para cada). A empresa acrescenta que busca soluções para aumentar o número de doses disponíveis no país e está “fortemente comprometida em buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais para acelerar a capacidade de produção da vacina”.
A procura pela Qdenga tem tido uma escalada, mais notadamente desde outubro de 2023, quando foram aplicadas 1.463 doses, mais que o dobro do mês anterior, setembro. De lá para cá, a procura cresceu mais 237%, fechando janeiro de 2024 com 4.923 doses aplicadas. Em dezembro do ano passado, haviam sido 2.341. No período acumulado de julho de 2023 a janeiro de 2024, foram administradas 13.290 doses da Qdenga, em cerca de 280 clínicas particulares do país. Cada aplicação custa, aproximadamente, a partir de R$ 350. Algumas clínicas privadas já relataram a falta do imunizante em algumas regiões devido à alta procura.
A decisão da Takeda foi considerada adequada pelo vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, que afirmou que priorizar a saúde pública é uma decisão adequada do laboratório e que a porcentagem de indivíduos que têm acesso a uma vacina com esse custo é muito pequena. Ele também defendeu que, à medida que mais doses sejam recebidas pelo SUS, o esforço deve ser para ampliar a abrangência de municípios com campanhas de vacinação, além dos 521 escolhidos pelo Ministério da Saúde.
Em relação à distribuição da vacina no mercado privado brasileiro, a ABCVAC ressaltou a importância do papel do setor privado complementando o setor público e expressou sua preocupação diante da possível falta da vacina nas clínicas particulares e especialmente em relação às faixas etárias não cobertas pelo setor público. A associação ressaltou a importância de soluções rápidas para garantir o abastecimento adequado.
Além da Qdenga, no Brasil há outra vacina contra a dengue, a Dengvaxia, do laboratório francês Sanofi-Pasteur, que só pode ser utilizada por quem já teve dengue. O imunizante não foi incorporado ao SUS e é contraindicado para indivíduos que nunca tiveram contato com o vírus em razão de maior risco de desenvolver quadros graves da doença. Desde 2009, pesquisadores do Instituto Butantan estudam a produção de uma nova vacina contra a dengue, que se encontra em fase final de ensaios clínicos, com previsão de submissão para análise da Anvisa entre junho e julho de 2024.