Um dado alarmante da pesquisa mostra que mulheres que não realizaram acompanhamento pré-natal no primeiro trimestre têm 47% mais chances de ter filhos com anomalias congênitas em comparação às que iniciaram o pré-natal precocemente. O estudo, que fundamenta suas análises em informações do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos e do Sistema de Informações de Mortalidade, foca em anomalias prioritárias identificadas para vigilância, como defeitos cardíacos, do tubo neural e síndromes como a de Down.
A investigação também revela desigualdades marcantes em relação ao perfil das mães. Mulheres que se identificam como negras têm 16% mais probabilidade de ter filhos com anomalias. A idade materna também se mostrou um fator crítico; mães acima dos 40 anos possuem 2,5 vezes mais chances, enquanto adolescentes abaixo dos 20 anos têm um risco 13% maior em relação a mães na faixa etária de 20 a 34 anos. A baixa escolaridade também se destaca como um preditor relevante: mães com apenas 0 a 3 anos de estudo têm 8% mais probabilidade.
Os dados revelam ainda que diversas anomalias estão ligadas a diferentes fatores de risco. Defeitos do tubo neural estão associados à falta de pré-natal e à baixa escolaridade, enquanto os defeitos cardíacos são mais comuns entre mães mais velhas e com histórico de perdas fetais. A Síndrome de Down, por sua vez, apresenta uma associação forte com a idade avançada da mãe.
As variações nas taxas de anomalias entre regiões do país também são notáveis. O Sudeste registra uma notificação mais eficaz, ao passo que o Nordeste, que abriga uma parte significativa da população em situação de pobreza, apresenta alta incidência de defeitos do tubo neural, atribuída a condições econômicas precárias e nutrição inadequada. Contudo, a epidemia do vírus Zika nos anos de 2015 e 2016 exacerbou a situação, elevando as taxas de microcefalia e outras anomalias na região.
Esses resultados evidenciam que a desigualdade socioeconômica e fatores biológicos desempenham um rol fundamental na saúde infantil. A pesquisadora Qeren Hapuk, responsável pelo estudo, aponta que, embora muitos desses fatores sejam evitáveis, requerem intervenções como educação materna, planejamento familiar, nutrição adequada e acesso a pré-natal.
O trabalho propõe que, para melhorar a saúde das crianças no Brasil, é crucial um enfoque sistêmico que aborde tanto as condições sociais e econômicas quanto os aspectos de saúde materna.