Essencialmente, a pesquisa ressalta um grave déficit de profissionais qualificados nas maternidades. A situação se agrava em unidades de pequeno porte: apenas um em cada quatro hospitais que realizam menos de mil partos anuais equipes completas disponíveis ao longo do dia. Ao mesmo tempo, mesmo nas instituições que realizam mais de 3 mil partos por ano, a proporção de equipes completas é alarmantemente baixa, representando apenas 62%.
Outro dado alarmante diz respeito à infraestrutura das maternidades. Quase 40% das unidades que registraram óbitos não contavam com UTIs materna e neonatal, e essa proporção sobe para 61,7% nos hospitais menores. Isso sugere que, apesar de muitos estabelecimentos possuírem 90% dos equipamentos e medicamentos requeridos, a falta de infraestrutura crítica pode comprometer gravemente a saúde das mulheres durante a gravidez e o parto.
Diante dessa realidade, Maria do Carmo Leal, coordenadora da pesquisa, destaca que a abertura de novas maternidades sem a devida estrutura pode não ser a resposta eficaz necessária para enfrentar as altas taxas de mortalidade materna. Em vez disso, é fundamental que existam polos regionais bem estruturados, capazes de oferecer um atendimento de qualidade.
Além das questões estruturais, a pesquisa também evidencia as disparidades raciais nas taxas de mortalidade materna. Em um estudo separado, foi constatado que 65% das mulheres que faleceram nesse contexto eram negras, um reflexo das desigualdades socioeconômicas e do acesso aos serviços de saúde. Especialistas apontam que a situação é agravada por fatores como a demora na busca por atendimento, que pode comprometer ainda mais as condições de saúde das gestantes.
As iniciativas do Ministério da Saúde, como a estratégia Rede Alyne, visam superar essas desigualdades através da expansão e qualificação dos serviços. Medidas como a inclusão do cálcio no pré-natal são um esforço para reduzir complicações e, por extensão, a mortalidade materna.
Ainda que as taxas de mortalidade materna estejam abaixo do limite estipulado pela Organização Mundial da Saúde, o Brasil precisa alcançar um objetivo mais ambicioso: reduzir essa taxa para 20 mortes a cada 100 mil nascidos vivos até 2030. Isso se alinha às metas de desenvolvimento sustentável da ONU e à urgente necessidade de garantir equidade no acesso à saúde para todas as mulheres.