Em entrevista ao jornal Última Palavra de 2 de setembro de 1988, o mais famoso policial de Alagoas não esconde torturas e crimes
A violência do velho oeste americano, popularizada entre nós pelas telas do cinema, deu fama aos xerifes e justiceiros bem-sucedidos. Muitos desses personagens foram heróis de algumas gerações de brasileiros. Eram mitos forjados pela coragem e violência, que em muitas ocasiões saíram das telas para tomar forma na polícia brasileira. São vários e conhecidos os exemplos desses policiais, que se tornaram mais temidos e respeitados que a própria instituição a que pertenciam. Tinham características de acordo com a época. Do combate aos bandidos à atuação na repressão política.
Alguns, de tão famosos, deram nome a lei, por controvertido que possa parecer. E o caso da Lei Fleury, feita especialmente para livrar da prisão um dos mais destacados “homens de ouro” da ditadura militar. Do exemplo nacional para Alagoas, a ação policial também fez seus mitos. Entre eles, nenhum ganhou tanta fama e permaneceu tanto tempo em atividade como o Dr. Rubens Quintella Cavalcante, que ainda hoje, aos 59 anos e 33 de polícia, permanece como referência e importante fonte de consulta para a polícia alagoana.
Na atividade policial, ele não nega: torturou e matou. Tanto o crime, como a lei, o tinham como fonte de consulta. Foi assim que evitou a morte de muita gente. Para se ter a ideia da sua força, um dos inquéritos onde era o autor do crime, teve os autos entregues em sua residência pelo Juiz que presidia o processo. Foi no crime do bandido Jaciro, que comandava uma quadrilha que assaltava os caminhoneiros. Houve um cerco, Jaciro conseguiu fugir e ainda matar dois policiais.
— “No enterro” — lembra o Dr. Rubens — “muitos discursos, mas pouca ação. Aí eu fiz uma promessa. No dia em que eu cercar esses bandidos, ou ele ou eu, ninguém se entrega“. E o encontro aconteceu na cidade de Rio Largo, em uma casa onde Jaciro estava escondido e onde a polícia chegou por indicação de uma ex-mulher do bandido, que estava casada com outro e continuava sendo chantageada. A equipe da polícia fez o cerco durante a noite e como companhia, Jaciro só tinha um candeeiro.
As palavras textuais do encontro ainda são repetidas hoje: “Saia para morrer, seu bandido. Ricardo, derrube a porta e pegue esse nego de mão”. O candeeiro se apagou e o temido Jaciro tentou a fuga pelo telhado. Pelo vulto, a silhueta do bandido, o Dr. Rubens disparou três tiros de metralhadora. De início ele pensou que Jaciro tinha escapado. Mas, mais afastado, o capitão Albuquerque viu logo Jaciro morto em cima do telhado. “Foi feito o inquérito e eu mandei o delegado apurar tudo. Quando chegou na Justiça, o Juiz achou que foi uma necessidade social. Foi a minha casa e me entregou o processo e disse que podia rasgar” — conta Rubens Quintella.
Mato no Satuba
Na infância ele já gostava de armas, de caçar, de ir para o mato na fazenda de seu pai, no município de Pilar. Aliás, foi um desentendimento com o pai que colocou Rubens Quintella a caminho do serviço público e posteriormente da própria polícia. “Eu tinha uns 19 anos e meu pai tinha ido para uma estação de águas. Fiquei administrando a fazenda. Houve um roço e em, vez de queimar o mato, resolvi jogá-lo dentro do rio Satuba. Quando meu pai voltou ficou uma arara comigo. Foi aí que tomei a decisão de trabalhar e nunca mais precisar dele” — lembra Quintella.
A porta de entrada no serviço público foi Campos Teixeira, posteriormente assassinado em Maceió e que era chefe da Casa Civil do governo Silvestre Péricles. Através dele, Rubens Quintella ganhou um emprego de recenseador do IBGE em Santana do Ipanema. O destino colocou em seu caminho a jovem Teresa, sua primeira esposa, que era filha do coronel Lucena Maranhão, então prefeito de Santana. Do sogro herdou muitas informações policiais e um emprego como fiscal de aguardente no IAA. Havia acabado o censo e o destino era Maceió, onde concluiu o curso de Direito e já no governo Muniz Falcão foi convidado pelo coronel Alcides Barros, já falecido, para ser delegado.
E logo de primeira, o Dr. Rubens Quintella foi ser Delegado de Roubos e Furtos, no tempo em que Batistinha, então delegado do 19º Distrito, era o policial famoso. Já nesse tempo, os métodos e coragem de Quintella começaram a ter repercussão. Sem rodeios, ele confessa que os marginais profissionais, viciados no roubo, eram colocados para mergulho no tanque de água. Quem era contumaz, já tinha mais de oito entradas, ia para o tanque e no terceiro mergulho inventava até alguma história quando culpa não tinha naquele caso.
E o Dr. Rubens explica: “não se pode fazer isso com um suspeito. Eu fazia até como laboratório de pesquisa e concluí que a única coisa que libera a pessoa humana é a presença da morte, devido ao instinto de conservação”. Mesmo diante de muita dor, existem pessoas, segundo o Dr. Rubens, que conseguem bloquear os efeitos e nada falar. Mas no afogamento no tanque, a pessoa entra em pânico ao sentir que vai morrer.
Nesse tipo de tortura existe mesmo risco de vida, principalmente se o torturado for cardíaco. “Mas nunca morreu ninguém e dá certo em 90% dos casos. Os marginais confessavam. Agora, não se pode fazer isso com um suspeito”. O tanque de tortura terminou sendo motivo de afastamento temporário do delegado Rubens Quintella da polícia. E que o governador Muniz Falcão o mandou destruir, depois da prisão de um falso frade, doente mental, que foi preso pelo Dr. Rubens por enganar o povo no Mercado. O falso frade era cria da família Falcão, na cidade pernambucana de Araripina, e no episódio o tanque também foi destruído e ganhou manchete a ação do governador nos jornais da época.
No afastamento, ele ficou como diretor administrativo da LBA por um ano e meio, aceitando o convite da dona Alba Mendes, primeira dama do Estado. Desse período, o Dr. Rubens lembra o trabalho da construção da maternidade Santa Mônica. Mas, a volta à polícia não demorou. Ele voltou a ser delegado em Maceió no governo Luiz Cavalcante. Na volta, arrancou um compromisso do então secretário de Segurança, Nelson Tenório: a criação do delegado de carreira. Foi nesse período a sua atuação na polícia-política, com o golpe militar de 1964.
O único comunista
Proclamando-se contrário a toda ideologia totalitária, Quintella diz hoje que não gostava de atuar na polícia-política. Sua participação foi para atender ao apelo do coronel Mendonça, então secretário de Segurança Pública. Das prisões efetuadas em 1964, o Dr. Rubens cita Jaime Miranda como o único comunista. E explica: “Foi o único que ouvi dizer que era comunista, marxista, leninista. Ele confessou que estava convencido e que se fosse crime, podiam matá-lo. Os outros tinham conversa mole e não assumiam suas posições. Jaime foi respeitado e ninguém tirou com ele nem uma brincadeira”.
Das ações que fez em 1964, Rubens Quintella lembra o bloqueio de postos no Farol e de quando atirou em um carro da Petrobrás, furando os pneus. Um dos elementos conseguiu fugir e ficou escondido na casa de Teotônio Vilela, onde não entramos. Nesse período, a tortura usada contra os marginais foi transportada para a repressão política. Em uma das ações, Quintella lembra a tortura a que foi submetido Rubens Colaço, então integrante do PCB e hoje candidato a vereador de Maceió pelo PT.
Os detalhes da operação são citados pelo Dr. Rubens: “O coronel Mendonça me chamou e pediu que investigasse um telegrama do Cenimar, que informava possuir Colaço cerca de 150 metralhadoras, fabricadas na Tchecoslováquia. Prendi e levei o Colaço para o Catolé, onde o submeti, com minha equipe, aos mergulhos. No segundo mergulho, mandei tirar, pois ele falou que não era da linha chinesa, mas da linha de Moscou. Eu não entendia nada disso”.
É que os comunistas do PCB, ligados a Moscou, não participavam na época de ações armadas. O delegado Rubens Quintella concluiu que não tinham fundamento as acusações do Cenimar. Outro investigado por Quintella foi Manoel Lisboa de Moura, que foi esposo da ex-deputada Selma Bandeira. “Esse era da linha chinesa e no escritório, no edifício Breda, encontramos várias cartilhas de alfabetização, impressas na China e escritas em espanhol”. Como Jaime Miranda, Manoel Lisboa foi morto, anos depois, pela repressão da ditadura.
Emoção e lágrimas
Casado por duas vezes e pai de nove filhos, seis da primeira e três da segunda esposa, a coragem e valentia que ainda hoje marcam o Dr. Rubens Quintella não impedem momentos de emoção e até lágrimas nos olhos. “Parece que é um parafuso frouxo na minha cabeça. Agora estou assim. Às vezes, uma cena de um filme na tv me faz chorar, me lembrar do passado”. E na entrevista a ÚLTIMA PALAVRA, as lágrimas aconteceram na lembrança do amigo Tobias Granja. Ele diz que Tobias era como um irmão e recorda um aniversário em sua fazenda, quando Tobias chegou pela madrugada, com violão e um grupo de amigos para começar a farra.
– “Poucos dias antes de morrer, ele telefonou-me para falar de um artigo que o Nilson Miranda tinha escrito contra mim. Ele me disse que já havia telefonado e esculhambado o Nilson. Não podiam ter feito isso com Tobias”. O lamento do Dr. Rubens é de que, apesar de toda a sua ampla rede de influência, não conseguiu evitar a morte do jornalista Tobias Granja. Na sua opinião, advogado não pode tomar parte nas questões. E isso teria sido um mal de Tobias, que inclusive não seguiu os conselhos dados pelo Dr. Rubens.
Personagem viva da história policial de Alagoas, o Dr. Rubens Quintella também jura inocência em diversos crimes de que foi acusado. Hoje, está afastado da frente de guerra, mas continua sendo consultado. Além da fama, é o principal arquivo da intrincada vida policial do Estado. Mas, a idade não o faz esmorecer. Agora mesmo desenvolve um projeto industrial para a produção de camarões. E mesmo na polícia não se considera aposentado. Sem hesitar, ele respondeu de pronto que aceitaria ser secretário de Segurança, mas logo acrescentou: “Aceitaria ser secretário de Segurança, mas só em outro governo”.
Três crimes famosos: Barrinhos, Tininho e Coronel Adauto
Os principais crimes da história recente de Alagoas passaram pelas mãos do Dr. Rubens Quintella. Ele sempre esteve envolvido nas investigações e em algumas ocasiões chegou a ser tido como suspeito, como no caso do delegado “Barrinhos”, da Polinter, e do secretário de Segurança Tininho.
— “Nunca tive ideia de matar o Barros”, rebate Quintella, explicando que foi ele quem levou o delegado “Barrinhos” para a Polinter, já que era piloto e a polícia precisava sobrevoar e se deslocar rápido nas diversas regiões do Estado, no combate à maconha.
Depois, segundo Rubens Quintella, “Barrinhos” conseguiu afastá-lo da Polinter, devido à sua amizade e influência junto à esposa do então governador Luiz Cavalcante. “Depois disso, tivemos algumas discussões e eu disse que ele tinha feito uma grande traição comigo”.
Entretanto, os arquivos da memória de Quintella registram que o delegado da Polinter foi assassinado pelos filhos de uma fazendeira de Quebrangulo, que vieram de São Paulo para cometer o crime. “É que em busca de maconha, o Barros invadiu a propriedade e submeteu a mulher a muitas humilhações. Os filhos vieram de São Paulo e o mataram com 12 tiros”.
Caso Tininho
No assassinato do secretário Tininho, na década de 60, o Dr. Rubens voltou a ser suspeito do crime. O governador Luiz Cavalcante chegou a ir ao Rio de Janeiro para pedir a intervenção da Polícia Federal para apurar o caso. O Dr. Rubens Quintella comandou pessoalmente as investigações e hoje, procurando evitar falar do assunto, diz que se tivesse sido fraco tinha corrido de Alagoas ou tinha sido preso.
— “Mas isso é coisa do passado. Estou satisfeito porque dias atrás recebi um telefonema do Dr. José Moura, para tratar de assuntos profissionais, como advogado. Seu telefonema me deixou feliz e acho que o passado deve ser esquecido”, reafirma Quintella, pedindo até que o fato não tenha menção em sua entrevista.
Coronel Adauto
A força de Rubens Quintella pode ser reconhecida, outra vez, em episódios como o atrito com o coronel Adauto, então comandante da Polícia Militar e posteriormente Secretário de Segurança, e o pedido posterior de proteção, antes de ser assassinado dentro do próprio quartel da Polícia Militar.
O atrito foi quando o coronel Adauto mandou desarmar todos os policiais civis que não estivessem em serviço. “Foram desarmar o João da Baiana, que não entregou seu revólver e correu para a minha delegacia. Peguei o telefone e disse ao coronel que aquilo era um absurdo e estava pronto para resistir. Que como o João da Baiana, eu também não iria entregar minha arma”.
Posteriormente, superado o atrito, o coronel Adauto marcou um encontro com Rubens Quintella no Canaã. “Ficamos eu e ele. Eu fui no carro do coronel Alcides, que me colocou na polícia, e o coronel Adauto, que era comandante, foi sozinho em um carro da polícia”. Nesse encontro, segundo Quintella, surgiu a confissão de Adauto: “me sinto ameaçado. Sou um homem decepcionado”. E pediu proteção.
E a partir daquele momento, a proteção do comandante da PM alagoana, que era também secretário de Segurança, passou a ser feita pela equipe do Dr. Rubens Quintella, que colocou nessa missão os policiais Castelo e Manoel Félix, avô do menino Jailton, que posteriormente foi assassinado pela polícia.
— “A ordem que dei para eles foi a de que se o coronel Adauto morresse, eles teriam que morrer juntos“. Mas, na opinião do Dr. Rubens, o coronel Adauto era um homem de caserna, “e como todo militar era infantil. E no dia do crime chegou ao quartel e deixou os dois policiais que coloquei na segurança dentro do carro, do lado de fora do quartel“.
E por uma simples reclamação de que o soldado Borges estava de serviço calçando sandálias, o coronel Adauto foi baleado dentro do quartel. “Ainda fui ao hospital e ele pediu que eu entrasse e apertou minha mão, apesar do seu quadro ser grave”.
Nesse crime, o arquivo do Dr. Rubens Quintella não tem registro preciso. Ele não se arrisca a afirmar que o soldado Borges foi remunerado para cometer o assassinato. Bem como se o crime foi mesmo ocasional, como uma revolta momentânea do soldado, que foi duramente repreendido pelo coronel. “É subjetivo“, define o Dr. Rubens.
Arnon criou a imagem do alagoano violento e Silvestre Nasceu para ser ditador
ÚLTIMA PALAVRA – O Sr. ainda tem planos para o futuro?
Rubens Quintella – Tenho, sim. Antes de morrer, e acho que não vou morrer na cama, eu tenho muito o que escrever.
UP – O Sr. viveu o período do governo Silvestre Péricles. que acha de Silvestre?
RQ – Ele nasceu para ser ditador, semelhante ao governador de agora. Silvestre dava tiros nos estudantes e eu me lembro de um episódio na Praça Sergipe, no Farol, quando ele encontrou um caminhão, com um grupo de estudantes, pregando cartazes de Arnon. Ele botou o pessoal para correr, chamou o Detran, colocou gasolina e tocou fogo no caminhão. Agora, tinha o seu lado humano. Era um poeta.
UP – Como foi sua entrada para a polícia?
RQ – Eu fui convidado pelo coronel Alcides Barros, no governo Muniz Falcão. Eu tinha concluído o Curso de Direito em dezembro e em janeiro já era delegado de Roubos e Furtos em Maceió.
UP – Qual a função da polícia?
RQ – Encaro a polícia como uma prestação de serviço à comunidade. O policial proporciona o equilíbrio social. Não pode usar a polícia para ganhar dinheiro, em proveito próprio. Ninguém teve a coragem e o topete de me oferecer dinheiro. E os homens da minha equipe morreram pobres. Cito os casos do Gregário e do Castelo.
UP – E a polícia-política: como foi sua participação?
RQ – Nunca gostei de fazer polícia-política. Policial não pode ser partidário. Polícia é um órgão técnico, de prestação de serviço à comunidade.
UP – E a questão dos direitos humanos, como o Sr. entende?
RQ – Geralmente, os direitos humanos só são lembrados para o marginal. A vítima é esquecida. Ninguém se lembra. Sempre dei aperto em bandido para atender o direito da vítima.
UP – O Sr. é anticomunista?
RO – Sou contra toda ideologia totalitária. Sou contra os comunistas ortodoxos e radicais. Tenho vontade de conversar com o Enio, do PC do B. Tenho raiva do totalitarismo, não dos comunistas.
UP – Aceitaria ser secretário de Segurança?
RQ – Só se fosse em outro governo.
UP – O que acha da polícia alagoana?
RQ – É violenta, como em todo o Brasil. Os policiais não são conscientizados que são empregados da sociedade, que a polícia não pode ser usada para ganhar dinheiro em benefício pessoal.
UP – Qual foi o melhor secretário de Segurança?
RQ – O melhor intencionado foi o coronel Lívio Massa.
UP – E o secretário Zeca Torres?
RQ – Nenhum político é bom secretário.
UP – E o coronel Amaral
RQ – Excessivamente dinâmico. Teve muitas obras físicas quando passou pela secretaria. Mas, durante os quatro anos em que ele assumiu, eu me afastei e disse que ele não ia controlar os policiais, que iam matar para ganhar dinheiro. O coronel Amaral é, entretanto, um dos homens mais dinâmicos que conheço. Se tivesse ficado só na empresa privada, teria feito uma grande fortuna. Mas, também não faço restrições aos outros secretários.
UP – O Sr. tinha um grupo na polícia?
RQ – Eu fazia uma seleção de homens. Mas, mudei muito a equipe.
UP – Já foi político, filiado a algum partido?
RO – Uma vez, a pedido do coronel Mendonça, eu fui candidato a deputado, para enfrentar o Aderval Tenório. Tive 700 votos e para se eleger eram necessários uns 1200. Foi coisa passageira. Depois disso, não fui filiado a nenhum partido.
UP – O Sr. evitou muita gente de morrer?
RQ – Evitei, sim. Tem muita gente viva. Deputado federal.
UP – Existe sindicato do crime em Alagoas?
RO – Nunca existiu sindicato. Antigamente, os fazendeiros eram amigos e se reuniam. Existia amizade. Ajuda, inclusive financeira. O que existia eram favores entre os coronéis da Guarda Nacional.
UP – E quem criou essa imagem do sindicato do crime?
RQ – Quem criou a imagem foi Silvestre. Já Arnon criou a imagem da violência em Alagoas. Como tinha influência na imprensa do Sul, todo crime em Alagoas tinha grande repercussão. Essa imagem de alagoano violento, bandido, quem criou foi Arnon. Já a de marajá, de que o alagoano é ladrão, foi Fernando Collor quem criou.
UP – O que o Sr. acha do presidente Sarney?
RQ – Sarney é um poeta. Não devia ser presidente.
UP – E a briga do governador Fernando Collor com o presidente Sarney?
RQ – É um projeto pessoal do governador, que está prejudicando toda a comunidade. E uma infantilidade. Um objetivo egoístico.
UP – O Sr. já foi baleado alguma vez?
RQ – Não. Nunca fui baleado. É Deus que protege.
UP – Como o Sr. viu a chacina de São José da Tapera?
RQ – A mentalidade do chefe político ainda existe. É da formação cultural. O ditador às vezes é bem-intencionado. Não existe o Kadafi. Sou suspeito para falar, pois sou compadre de Elísio Maia.
UP – Qual foi a prisão mais difícil que o Sr. efetuou?
RQ – Quase todas são difíceis.
UP – Nesse período de polícia, como foi o seu relacionamento com a imprensa?
RQ – Nunca tive problema. Hoje, com a mídia, a imprensa é uma arma muito poderosa. Se orientar cientificamente, ela conseguirá mostrar que o branco é preto. Já pensou um governador, com tendência de ditador, com toda essa mídia na mão? Na minha ēpoca, o Zito Cabral e o Tobias Granja eram honestos. Eu gostava deles.
UP – O Sr. vota em quem para prefeito de Maceió?
RQ – Eu voto em Maceió. Mas n]ao me decidi. Voto de acordo com a minha consciência.
UP – O que acha da Justica alagoana?
RQ – A Justiça ē arcaica, inoperante. A sociedade cresceu muito e a Justiça continua a mesma. Temos que ter uma Justiça semelhante a americana. A estrutura da Justiça tem que modificada.
UP – É contra a pena de morte ou favorável?
RQ – Para o delinquente contumaz, do crime hediondo, que mata para roubar, seqestra crianças, estupra menores de 10 anos, sou favoráel, Um individuo desses tem que morrer. E tem que ser sumário.
*Publicado originalmente no jornal Última Palavra de 2 de setembro de 1988.
História de Alagoas