REPRESENTATIVIDADE! Participação Feminina em Cargos de Secretariado nos Estados e Capitais do Brasil ainda é Baixa, Revela Censo de 2024



Em pleno século 21, a desigualdade de gênero ainda marca forte presença nos gabinetes governamentais brasileiros, revelando um cenário de disparidade que persiste a despeito de avanços pontuais. Este é o panorama traçado pelo inédito Censo das Secretárias, pesquisa que mapeou a presença feminina nos altos escalões dos governos estaduais e das capitais no Brasil, entre novembro de 2023 e março de 2024. Com uma participação feminina de apenas 28%, o levantamento traz à tona o predomínio masculino no secretariado, que conta com 72% dos cargos ocupados por homens. Apesar da baixa representatividade, algumas localidades se destacam positivamente: Natal, a capital do Rio Grande do Norte, e os estados de Alagoas, Pernambuco e Ceará foram os únicos a atingir a paridade de gênero no período analisado.

O Censo, que analisou 1.234 órgãos — 698 estaduais e 536 municipais — também avançou na questão da diversidade racial, inquirindo pela primeira vez a autodeclaração racial das secretárias. Os resultados mostram que 57,4% se identificam como brancas e 37,8% como pretas ou pardas. A representação indígena e de mulheres amarelas é de 3% e 2%, respectivamente. A sub-representação ainda se faz mais aguda entre mulheres com deficiência, que correspondem a apenas 1,3% das secretárias.

Uma análise mais aprofundada dos dados revela ainda uma concentração significativa de mulheres em pastas socialmente orientadas — como Saúde e Educação — nos estados (53%) e capitais (44%), enquanto em setores estratégicos e tradicionalmente masculinos, como infraestrutura e economia, a participação feminina é modesta, refletindo um fenômeno de segregação horizontal que reforça estereótipos de gênero.

Marina Barros, que dirige o Instituto Alziras, arrosta estes números como sintomas de barreiras estruturais que persistem em impedir a plena ascensão feminina nos mais altos postos de governo. Sua opinião é compartilhada por Esther Le Blanc, do Instituto Foz, que celebra a alta qualificação das secretárias — 43% possuem especialização e 36% têm mestrado ou doutorado, com a maior qualificação das mulheres negras também sendo destacada.

A pesquisa põe em evidência que metade das secretárias estão ocupando essas posições pela primeira vez, um dado que sugere um recente avanço, ainda que muitos desafios persistam. Ainda, a análise do percurso dessas mulheres revela que a maioria ascendeu vindo de outras secretarias, enquanto experiências em outros setores executivos permanecem limitadas.

Luana Dratovsky, do Instituto Aleias, destaca a importância das nomeações feitas por escalões de poder dominados por homens, mostrando como o capital político e as redes sociais são cruciais para o acesso aos altos cargos. A participação política dessas mulheres também se mostra relevante, com quase metade delas possuindo algum vínculo partidário. O ativismo em movimentos feministas, especialmente entre as negras, surge como um fator significativo em suas trajetórias.

Em relação ao futuro, a maioria das secretárias demonstra intenção de permanecer no setor público, ainda que a aspiração a cargos eletivos seja baixa. Taís Borges, da Travessia Políticas Públicas, salienta que o diagnóstico fornecido por este censo abre caminho para ações concretas em prol da igualdade de gênero nos quadros de liderança, realçando a importância de uma abordagem interseccional nas políticas públicas.

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