O Censo, que analisou 1.234 órgãos — 698 estaduais e 536 municipais — também avançou na questão da diversidade racial, inquirindo pela primeira vez a autodeclaração racial das secretárias. Os resultados mostram que 57,4% se identificam como brancas e 37,8% como pretas ou pardas. A representação indígena e de mulheres amarelas é de 3% e 2%, respectivamente. A sub-representação ainda se faz mais aguda entre mulheres com deficiência, que correspondem a apenas 1,3% das secretárias.
Uma análise mais aprofundada dos dados revela ainda uma concentração significativa de mulheres em pastas socialmente orientadas — como Saúde e Educação — nos estados (53%) e capitais (44%), enquanto em setores estratégicos e tradicionalmente masculinos, como infraestrutura e economia, a participação feminina é modesta, refletindo um fenômeno de segregação horizontal que reforça estereótipos de gênero.
Marina Barros, que dirige o Instituto Alziras, arrosta estes números como sintomas de barreiras estruturais que persistem em impedir a plena ascensão feminina nos mais altos postos de governo. Sua opinião é compartilhada por Esther Le Blanc, do Instituto Foz, que celebra a alta qualificação das secretárias — 43% possuem especialização e 36% têm mestrado ou doutorado, com a maior qualificação das mulheres negras também sendo destacada.
A pesquisa põe em evidência que metade das secretárias estão ocupando essas posições pela primeira vez, um dado que sugere um recente avanço, ainda que muitos desafios persistam. Ainda, a análise do percurso dessas mulheres revela que a maioria ascendeu vindo de outras secretarias, enquanto experiências em outros setores executivos permanecem limitadas.
Luana Dratovsky, do Instituto Aleias, destaca a importância das nomeações feitas por escalões de poder dominados por homens, mostrando como o capital político e as redes sociais são cruciais para o acesso aos altos cargos. A participação política dessas mulheres também se mostra relevante, com quase metade delas possuindo algum vínculo partidário. O ativismo em movimentos feministas, especialmente entre as negras, surge como um fator significativo em suas trajetórias.
Em relação ao futuro, a maioria das secretárias demonstra intenção de permanecer no setor público, ainda que a aspiração a cargos eletivos seja baixa. Taís Borges, da Travessia Políticas Públicas, salienta que o diagnóstico fornecido por este censo abre caminho para ações concretas em prol da igualdade de gênero nos quadros de liderança, realçando a importância de uma abordagem interseccional nas políticas públicas.