Relatórios Revelam Falhas em Sistema de Degelo de Avião da VoePass Envolvido em Tragédia Aérea



 

Relatórios internos da VoePass indicam que o avião ATR-72, que se acidentou em Vinhedo, interior de São Paulo, resultando na morte de 62 pessoas, já havia apresentado múltiplas falhas no sistema de degelo no ano passado. Os registros apontam ao menos seis casos de inoperância do sistema em julho de 2023, conforme informações contempladas em documentos obtidos.

Os dados revelam que, em algumas situações, foi feito um alerta técnico recomendando que a aeronave evitasse voos para o Sul do país, por conta das condições climáticas adversas daquela região que poderiam agravar os problemas técnicos. Apesar dessas recomendações, o avião continuou a operar inclusive em trajetos para Porto Alegre, onde as falhas foram novamente detectadas.

No dia 13 de julho, um técnico de manutenção em Ribeirão Preto relatou a inoperância do sistema de degelo e recomendou que viagens ao Sul fossem evitadas. No entanto, a aeronave prosseguiu para Porto Alegre, onde o problema foi novamente anotado. Além disso, em Porto Alegre, foram identificados problemas no limpador de para-brisa e no sistema de alerta de aproximação com o solo.

No dia 14 de julho, os técnicos em Congonhas também reportaram o problema no sistema anticongelamento e reafirmaram a recomendação de evitar rotas para o Sul. Quatro dias depois, em 18 de julho, o turboélice ainda apresentava falhas no sistema de degelo e no gerador elétrico. Posteriormente, em Ribeirão Preto, além dos problemas já conhecidos, um defeito no indicador de situação horizontal também foi identificado.

O comandante Ruy Guardiola, ex-colaborador da VoePass e um dos primeiros pilotos a operar o modelo ATR no Brasil, revelou que a equipe de manutenção, em uma ocasião, usou um palito de fósforo para solucionar um problema no botão do sistema antigelo. Este incidente teria ocorrido em 2019, quando Guardiola trabalhou por um mês na empresa, então chamada Passaredo.

Outro ex-funcionário, que pediu anonimato, afirmou que a companhia frequentemente negligenciava a segurança em favor do lucro. Ele mencionou um avião apelidado de “Maria da Fé”, sugerindo precariedade extrema no estado de conservação da aeronave. “A empresa colocava a segurança em segundo ou terceiro plano, visando mais o lucro. A gente tinha um avião que apelidava de Maria da Fé, porque só voava pela fé”, disse o ex-comissário.

As novas revelações levantam sérias questões sobre os procedimentos de manutenção e segurança da VoePass, especialmente em relação ao sistema de degelo, que está sendo apontado como uma possível causa da tragédia. A empresa, por sua vez, declarou que todos os problemas detectados em 2023 foram resolvidos e garantiu que, no dia do acidente, o sistema estava funcionando corretamente. Contudo, os relatos e documentos levantam dúvidas significativas sobre a gestão da manutenção e a segurança operacional das aeronaves.

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