Regulamentação das plataformas digitais é defendida para combate ao discurso de ódio propagado nas redes sociais



A regulamentação das plataformas digitais, visando responsabilizar as big techs pela disseminação de conteúdos criminosos, foi tema de debate durante uma audiência pública promovida pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional (CSS). Jornalistas, especialistas e advogados se uniram em defesa dessa medida como forma de combater o discurso de ódio disseminado pelas redes sociais.

Letícia Cesarino, jornalista e assessora de Comunicação e Cultura do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, alertou para o fato de que o discurso de ódio tende a se intensificar e se radicalizar caso não seja combatido. Segundo ela, o ambiente digital já é um reflexo disso. Cesarino argumentou que é necessário que o Estado e as políticas públicas tenham meios e metodologias para impedir a chamada “soberania paralela” das plataformas digitais, que permite a propagação de conteúdos criminosos por meio de algoritmos das big techs, que muitas vezes não são transparentes.

Um dos desafios para a implementação de uma regulamentação efetiva e combate ao discurso de ódio nas plataformas digitais é a ambiguidade dessa comunicação no ambiente online, de acordo com Cesarino. Muitos conteúdos são produzidos e disseminados por influenciadores que disfarçam o teor de ódio, muitas vezes não sendo vistos como radicais. A jornalista afirmou que o discurso de ódio pode se manifestar de diferentes formas, como humor, ironia, brincadeiras, linguagens religiosas e de entretenimento, tudo isso no contexto de uma cultura digital que acaba contaminando o espaço público.

Andrea Vainer, diretora da Confederação Israelita do Brasil (Conib), ressaltou a insegurança jurídica existente no combate aos crimes de ódio nas plataformas digitais. Apesar de o país possuir uma legislação que permite a responsabilização penal, como a Lei do Racismo e o Marco Civil da Internet, há uma lacuna legal que permite que muitas situações de discurso de ódio sejam tratadas como meras brincadeiras ou exercícios do direito à liberdade de expressão. Para Vainer, isso dificulta a imposição de penas mais severas, gerando uma insegurança jurídica para combater o extremismo e a violência online.

Leonardo Sakamoto, colunista da Folha de S.Paulo, relatou ter sido alvo de agressões decorrentes desses discursos de ódio. Ele destacou que o Brasil passou por um processo de radicalização nos últimos anos e alertou para a tentativa de descredibilizar o trabalho da imprensa como forma de dificultar a fiscalização e transparência nos poderes públicos, bem como a defesa de pautas relacionadas aos direitos humanos e preservação ambiental. Sakamoto defendeu a retomada dos observatórios, a federalização dos crimes de ódio contra profissionais da imprensa, a proteção aos comunicadores, treinamentos para profissionais e, principalmente, a regulamentação e responsabilização das plataformas digitais.

O Conselho de Comunicação Social, órgão do Congresso Nacional, tem como objetivo auxiliar o Congresso em questões relacionadas à comunicação social. Composto por 13 integrantes titulares e 13 suplentes, representando empresas, trabalhadores do setor de comunicação e sociedade civil, o conselho busca promover um debate amplo e qualificado sobre as diferentes temáticas relacionadas à comunicação.

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