Prefeitura de Palmeira dos Índios paga mais de R$30 milhões à organizações sociais que levantam questões legais e éticas.


Uma situação polêmica vem se desenrolando em Palmeira dos Índios, onde o Instituto de Gestão de Políticas Públicas e Sociais (IGPS), uma organização de sociedade civil (OCS), recebeu do município a quantia significativa de R$ 30.708.282,19 nos anos de 2022 e 2023. A verba, destinada majoritariamente à contratação de pessoal, levanta importantes questionamentos legais e éticos, especialmente no que tange às normas de licitação e às práticas de contratação no serviço público.

De acordo com as leis brasileiras, a contratação de pessoal no serviço público deve ocorrer predominantemente através de concursos públicos, visando garantir a igualdade de oportunidades e a meritocracia. O pagamento direto a uma OCS, como o ocorrido com o IGPS, sem o devido processo legal, pode ser interpretado como uma burla às normativas, inclusive às disposições fiscais e trabalhistas.

Esta prática gera preocupações sobre a transparência e a eficiência na gestão dos recursos públicos. A utilização de organizações sociais para a contratação de pessoal levanta questões sobre a fiscalização, a prestação de contas e a qualidade dos serviços prestados à população.

Especialistas em direito público e em gestão fiscal apontam que a contratação de uma OCS para gerir recursos humanos na administração pública deve ser cercada de rigorosos critérios de controle, para evitar desvios e assegurar que os serviços prestados atendam às necessidades da população com eficiência e qualidade.

Além disso, a situação em Palmeira dos Índios reflete um debate mais amplo sobre o papel das Organizações de Sociedade Civil na gestão pública no Brasil. Enquanto alguns defendem essa modalidade como uma forma de agilizar e qualificar a prestação de serviços, outros argumentam que ela pode abrir portas para a precarização do trabalho e para a falta de transparência nas contas públicas.

Em resposta à polêmica, espera-se que as autoridades competentes realizem uma investigação minuciosa e tomem medidas para assegurar que a legislação seja respeitada e que os recursos públicos sejam utilizados de maneira eficiente e transparente.

Legislação de Licitações e Contratos: No Brasil, a Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993) regula as contratações públicas, exigindo procedimentos licitatórios para garantir a escolha mais vantajosa para a administração e a promoção da igualdade de condições a todos os concorrentes. A contratação direta de uma OS, sem o devido processo licitatório, pode ser vista como uma violação dessa legislação.

Contratação de Pessoal no Serviço Público: Tradicionalmente, a contratação de pessoal no serviço público brasileiro deve ser realizada por meio de concursos públicos, conforme preceitua a Constituição Federal, para assegurar a impessoalidade, moralidade e igualdade de oportunidades. A contratação direta de pessoal por uma OCS pode contradizer esses princípios constitucionais.

Transparência e Prestação de Contas: A falta de transparência na alocação e na utilização de recursos públicos é uma preocupação significativa. As OCSs devem prestar contas de sua gestão, garantindo que os recursos sejam utilizados de forma eficiente e para o propósito destinado. Fiscalização e Controle: A fiscalização efetiva desses contratos é crucial para prevenir irregularidades. Os órgãos de controle, como os Tribunais de Contas e o Ministério Público, desempenham um papel fundamental na revisão dessas práticas para assegurar a legalidade e a probidade administrativa.

Além das implicações legais, há também questões políticas e sociais envolvidas. Tais práticas pode afetar a confiança na gestão pública e na alocação de recursos.

Com receio dos protestos, prefeito-imperador mandou suspender contrato com IGPS, mas apenas “enganou” os manifestantes

Em 23 de maio de 2022, uma virada significativa ocorreu na gestão pública de Palmeira dos Índios após pressão popular. A Comissão de Monitoramento e Avaliação e Gestora de Parcerias da prefeitura, liderada por José Alves, primo do prefeito Julio Cezar, suspendeu as atividades do Instituto de Gestão de Políticas Públicas e Sociais (IGPS) relacionadas às secretarias de assistência social e saúde. Essa decisão veio atender ao clamor das crescentes manifestações dos sindicatos e servidores públicos, que tomaram as ruas e as emissoras de rádio para protestar contra a contratação do IGPS naquele período.

O Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, Previdência, Seguro Social e Assistência Social de Alagoas (Sindprev) Regional Palmeira dos Índios, juntamente com servidores e moradores, foram surpreendidos com o Termo de Colaboração entre a prefeitura e a Organização da Sociedade Civil: Instituto de Gestão de Políticas Públicas e Sociais (IGPS). Esta parceria foi estabelecida para gerenciar a contratação de pessoal nas áreas da Saúde, Administração e Assistência Social. A população, alertada por um protesto na Praça da Independência, começou a questionar a “terceirização” dos serviços básicos.

Valéria Correia, ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas e membro do Fórum Alagoano em Defesa do SUS, destacou na época que esses modelos de gestão foram criados durante o governo de Fernando Henrique Cardoso para transferir a responsabilidade da execução de políticas sociais do Estado para entidades privadas, mantendo, contudo, o financiamento estatal. Ela salientou que, embora a execução dos serviços seja privada, a fiscalização e o financiamento permanecem públicos, o que levanta questões sobre a eficácia da fiscalização.

A professora Correia também enfatizou a preocupação com a relação de trabalho entre o município e os servidores. Ela argumentou que os contratos vinculados a uma empresa privada enfraquecem os vínculos empregatícios e promovem a precarização do trabalho. A ausência de concursos públicos e a instabilidade trabalhista são pontos críticos dessa mudança.

Valéria Correia alertou para a tendência crescente desses modelos privatistas de gestão em Alagoas, citando o exemplo de Maceió, onde grandes somas foram destinadas a entidades privadas sem fins lucrativos em anos eleitorais. Segundo ela, isso representa uma onda de precarização das relações de trabalho e do serviço público, com implicações diretas na qualidade dos serviços prestados à população.

O caso de Palmeira dos Índios um exemplo emblemático dessa tendência levantou questões cruciais sobre a gestão pública, a transparência dos recursos e a qualidade dos serviços sociais no Brasil. Contudo, após a suspensão e os ânimos dos manifestantes terem sido acalmados, a prefeitura deu continuidade ao contrato com o IGPS e pagou de lá para cá mais de R$30 milhões ao instituto que contrataprestadores de serviços que não prestam serviços, haja vista o município não ter estrutura física para comportar tanta gente.

Jornal Rede Repórter - Click e confira!



Botão Voltar ao topo