POLÍTICA –

Promotor alerta: Brasil caminha para ser um narcoestado por falta de integração entre forças de segurança

A integração deficiente entre as forças de segurança no Brasil é um dos principais empecilhos no combate ao narcotráfico organizado, conforme aponta Lincoln Gakiya, um dos promotores do Ministério Público de São Paulo encarregado de investigar o Primeiro Comando da Capital (PCC). Para Gakiya, existe uma urgente necessidade de coordenação e cooperação entre as polícias e o Ministério Público, uma vez que hoje predominam disputas institucionais que dificultam um combate mais efetivo ao crime organizado.

Em uma audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Crime Organizado no Senado, Gakiya expressou preocupação com a situação atual, alertando que, se medidas não forem implementadas rapidamente, o Brasil poderá se tornar um narcoestado. Ele destaca que as facções criminosas já se infiltraram na economia formal, utilizando fintechs, plataformas de apostas e criptomoedas para lavagem de dinheiro e ocultação de ativos. Essa realidade acentua ainda mais a necessidade de uma abordagem integrada para enfrentar o problema.

O promotor fez uma crítica contundente ao projeto de lei Antifacção, que, segundo ele, falha em diferenciar de maneira adequada as lideranças e os “soldados” do crime organizado. Gakiya argumenta que um endurecimento das penas não é a solução principal; é crucial que haja uma cooperação efetiva entre as instituições, além de um aperfeiçoamento das leis existentes. Para ele, a polarização política no Brasil tem contribuído para a falta de colaboração entre as forças de segurança, o que agrava a crise de segurança pública.

Ele ressaltou a importância de iniciativas como a Operação Carbono Oculto, que desarticulou um esquema de lavagem de dinheiro do PCC, mas lamentou que tais operações frequentemente dependem de esforços isolados de servidores, e não de uma verdadeira colaboração institucional. Gakiya propôs a criação de uma Autoridade Nacional para o combate ao crime organizado, composta por representantes de várias agências, com o intuito de superar as divisões existentes.

Ademais, o promotor enfatizou que a infiltração do PCC no setor público e na economia formal é alarmante. Casos de controle de empresas, como companhias de ônibus em São Paulo, ilustram essa conexão entre crime organizado e poder público. Ele observou que o PCC se espalhou por diversas unidades da federação e já atua em pelo menos 28 países, com receitas que cresceram exponencialmente, de R$ 10 milhões anuais em 2010 para cerca de R$ 10 bilhões nos dias atuais.

Gakiya também expressou grave preocupação com o papel das plataformas de apostas online e das fintechs na lavagem de dinheiro. Esse novo cenário financeiro, com regulamentações escassas, facilita a atuação de facções criminosas. Ele concluiu reiterando a importância de um monitoramento eficaz e de uma regulação mais rígida para combater a infiltração do crime organizado no sistema financeiro brasileiro.

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