O estudo destaca que essa recorrência nas capacitações militares nos EUA é um resíduo do alinhamento histórico entre Brasil e Estados Unidos durante a Guerra Fria. Desde o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca em 1947, passando pela criação da OEA em 1948 e o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos em 1952, até as iniciativas regionais lideradas pelos EUA na área de defesa, como a Conferência de Ministros da Defesa das Américas e o William J. Perry Center for Hemispheric Studies, a presença norte-americana tem sido marcante na cooperação militar brasileira.
Em um cenário internacional multipolar, onde outras potências como China, Índia e Rússia ganham cada vez mais influência, a predileção pela cooperação militar com os EUA pode não ser a mais produtiva para os interesses do Brasil. Diversificar as parcerias pode ser uma alternativa mais favorável à política externa brasileira.
O estudo do Ipea, baseado em registros oficiais e informações coletadas, revela que os Estados Unidos são o destino preferido dos militares brasileiros em programas de pós-graduação, com 27 estudantes nos três anos analisados. A concentração das cooperações militares em um único parceiro pode prejudicar os interesses da política externa brasileira, especialmente em espaços de decisão multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU.
Diante desse cenário, o estudo traz recomendações políticas para a atuação internacional do setor de defesa brasileiro, como priorizar o entorno estratégico brasileiro, reativar a Escola Sul-Americana de Defesa e buscar colaborações em ensino e capacitação de defesa em outras áreas estratégicas para o Brasil. Com a previsão de novos documentos de defesa a serem enviados ao Congresso Nacional, as recomendações do estudo podem contribuir para uma abordagem mais ampla e diversificada nas relações militares internacionais do Brasil.