Segundo o escritor André Ítalo, autor do livro “A Bancada da Bíblia: uma história de conversões políticas”, a bancada evangélica sempre teve uma postura pró-governo, independentemente da orientação ideológica do Executivo em vigor. Essa proximidade histórica foi muitas vezes motivada pela defesa de privilégios, como a isenção tributária para igrejas.
No entanto, o governo de Jair Bolsonaro marcou uma mudança significativa nessa relação, uma vez que foi o primeiro presidente de direita a estabelecer uma afinidade ideológica com a bancada evangélica. Com a iminente volta de Lula ao poder, esses laços governistas podem ser abalados, conforme aponta Ítalo.
A presença dos evangélicos no Congresso também tem sido objeto de análise. Atualmente, estima-se que existam entre 90 e 100 deputados evangélicos, representando menos de 20% do total de parlamentares na Câmara. No Senado, esse número varia de 10 a 15, em um cenário de 81 senadores. Essa representatividade mais reduzida está diretamente relacionada ao crescimento mais lento da população evangélica nas últimas décadas.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores é a diversidade de opiniões dentro da bancada evangélica. O professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, ressalta que há diferentes segmentos e estratégias em jogo. Ele destaca a Igreja Universal como um dos grupos mais influentes e a estratégia adotada pelo Partido Republicanos, que soube abrir espaço para políticos não evangélicos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.
Em meio a essas nuances, a bancada evangélica enfrenta, segundo Barreto, as “dores do crescimento”. Pressionados por uma base cada vez mais conservadora e de direita, os parlamentares evangélicos buscam equilibrar suas agendas políticas dentro desse contexto mais restritivo.
Em suma, a relação entre o governo federal e a bancada evangélica é um dos pontos centrais a serem observados neste novo período legislativo, que tende a ser marcado por negociações e alianças em busca de apoio político. A postura dos evangélicos e sua influência nas decisões do Executivo serão temas de grande relevância nos próximos capítulos da política nacional.