Quadrilha que destruiu unidade da Caixa em Ipanema escapou com R$ 60 mil

Tudo durou quatro minutos. Bandidos chegaram com mochilas, descarregaram explosivos e se afastaram. Cirúrgica, a detonação não balançou a marquise do prédio em Ipanema, mas abriu o cofre de uma máquina que guardava R$ 60 mil. Os assaltantes retornaram, recolheram as notas e arrancaram em um carro que haviam parado a poucos metros de uma agência da Caixa Econômica Federal na Rua Visconde de Pirajá, em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, recém-reformada. A cena de destruição de mais um caixa eletrônico, crime que vem se tornando frequente no Rio, tem, segundo a polícia, a “assinatura” de uma facção criminosa de São Paulo, que age em associação com bandidos do estado. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que, nos últimos três anos, a polícia apreendeu 758 bombas de fabricação caseira, como a usada na madrugada de ontem. Em 2014, foram recolhidos 163 artefatos desse tipo e, em 2016, o número chegou a 293.
O caso de Ipanema não foi o único ocorrido na madrugada desta sexta-feira: uma quadrilha também explodiu um caixa eletrônico em uma agência do Banco do Brasil em Tanguá, município da Região Metropolitana localizado a 64 quilômetros do Rio. Assim como na Zona Sul, os assaltantes fugiram com dinheiro, mas o valor não foi divulgado, conforme o Globo.
Os casos de explosões de caixas eletrônicos têm sido investigados pelas polícias Federal e Civil. Somente nos últimos dois meses foram nove ocorrências, ainda não contabilizadas nas estatísticas oficiais. Já se sabe que os criminosos que agiram em Ipanema usaram cerca de um quilo de pólvora, provavelmente colocada dentro de um tubo de PVC. Um plano meticuloso, como revelam alguns detalhes. O bando teve o cuidado, por exemplo, de espalhar pequenas armadilhas feitas com pregos no asfalto da Visconde de Pirajá, para furar pneus de quem tentasse segui-los de carro. Policiais, dizem moradores, chegaram rapidamente, mas não a tempo de verem os assaltantes virando à esquerda, na Rua Joana Angélica, em direção à Lagoa.
OUSADIA DOS BANDIDOS CAUSA INDIGNAÇÃO
Pela manhã, moradores paravam para ver os destroços. Asfalto e calçada ficaram cobertos de estilhaços de vidro da agência bancária. Moradora de Ipanema, a corretora de imóveis Clara Martins observou que a ação foi de extrema audácia, numa área muito valorizada do bairro. A agência fica no térreo de um prédio de oito andares, onde cada apartamento é avaliado em mais de R$ 2 milhões.
— Foi muita ousadia. Fizeram isso num dia de feira, devia ter gente chegando à praça. As ruas Joana Angélica, Maria Quitéria, Garcia d’Ávila e Aníbal de Mendonça formam o quadrilátero mais nobre do bairro — disse Clara.
Também morador de Ipanema, José Waldir disse que impera uma total certeza de impunidade:
— Escolher uma agência bancária da Praça Nossa Senhora da Paz para explodir significa que bandidos podem fazer o mesmo em qualquer lugar do Rio, até mesmo no Palácio Guanabara (sede do governo do estado).
— A assinatura do ataque é do PCC (facção criminosa paulista), e a pólvora usada pode ter sido obtida de fogos de artifício. É uma possibilidade real, uma linha de investigação, mas não é a única — informou um policial.
CÂMERA REGISTROU IMAGENS DO ATAQUE
Uma câmera de segurança registrou a ação. Um morador de rua sai correndo, assustado, quando os bandidos chegam ao banco. Pouco depois, ele volta para resgatar dois cães que estavam presos a coleiras. De acordo com testemunhas, o homem chegou a ser levado para uma delegacia como suspeito, mas foi liberado.
Revoltada, a economista Júlia Ribeiro, de 24 anos, filmou, com seu celular, o cenário de destruição. Ela disse que nunca havia imaginado tamanha escalada de violência:
— Meu sentimento é de raiva porque sei que a polícia não terá capacidade de prender as pessoas que fizeram isso.
Durante a manhã, agentes do Esquadrão Antibomba da Polícia Federal vasculharam a área do assalto em busca de pedaços de explosivos, mas nada encontraram.
O prefeito Marcelo Crivella voltou a criticar a política de segurança, principalmente no que diz respeito ao controle do tráfico de drogas, armas e munição:
— É ingovernável uma cidade em que morrem tantos policiais. A questão de ter tanta arma e munição no Rio é um absurdo. Toda noite, homens e mulheres entram em nossos hospitais com tiros de fuzil. Jovens dão rajadas para o alto depois dos bailes funk. Isso precisa ser visto com atenção ou vamos continuar sendo um país violento que mata, sobretudo, jovens de 16 a 24 anos, pobres e negros — disse Crivella, ressaltando que a responsabilidade é do governo federal. — O Rio de Janeiro não suporta mais ter tanto armamento em circulação. Fronteiras, estradas, portos e aeroportos são responsabilidade do governo federal. É a soberania do país.
Autor do projeto conhecido como Estatuto da Segurança Privada, apresentado quando era senador, o prefeito disse que há medidas, como o uso de um dispositivo que mancha cédulas com tinta em casos de destruição de caixas eletrônicos, que poderiam reduzir esse tipo de crime. A proposta está no plenário do Senado, aguardando a leitura de um requerimento de uma audiência sobre o assunto na Comissão de Assuntos Econômicos da Casa.