Lançado em 2020, o Pix emergiu a partir de discussões iniciadas em 2016, sob a liderança do Banco Central, durante o governo de Michel Temer, e ganhou corpo durante a gestão de Jair Bolsonaro. Este sistema revolucionou as transações financeiras no Brasil, e, atualmente, é a opção de pagamento mais utilizada, com aproximadamente 76,4% da população fazendo uso dele, superando cartões de débito e crédito. Desde sua implementação, o Pix movimentou cerca de R$ 65 trilhões, atingindo um recorde mensal de R$ 2,8 trilhões em junho deste ano. E, em breve, uma nova funcionalidade permitirá pagamentos a crédito, o que representa um golpe direto nas receitas de bancos e fintechs tradicionais.
O economista Hugo Garbe, da G11 Finance, explica que a estrutura gratuita e instantânea do Pix desintermediou um mercado antes dominado por grandes bandeiras de cartões de crédito, como Visa e Mastercard. Para Washington, isso significa uma distorção da concorrência, especialmente porque o sistema se apresenta como uma solução estatal, muito mais acessível que as alternativas privativas. Este sucesso brasileiro alerta notavelmente os EUA, uma vez que poderia inspirar outros países a desenvolvedores sistemas semelhantes, desestabilizando a predominância do dólar e reconfigurando as estruturas financeiras globais.
Uma possível retaliação norte-americana poderia surgir na forma de tarifas adicionais ou restrições comerciais, o que traria impactos significativos para a economia brasileira, incluindo alta nas exportações e pressão sobre a balança comercial. Portanto, como sugere Garbe, é crucial que o Brasil defenda o Pix como uma política pública voltada para a inclusão financeira, ao mesmo tempo em que busca envolver fintechs estrangeiras no ecossistema do sistema de pagamento.
As críticas de Trump ao Pix vão além das questões econômicas, revelando um conflito ideológico subjacente e uma tentativa de contenção do avanço de modelos alternativos ao capital americano. Assim, o Pix não é apenas um sistema de pagamento; é, na verdade, um símbolo de uma mudança econômica e geopolítica, representando um novo paradigma financeiro que busca democratizar o acesso e reduzir custos, enquanto desafia o status quo internacional. Essa situação exige uma resposta estratégica do Brasil, mostrando que o sistema é uma inovação doméstica que visa a inclusão e a eficiência econômica.