Um terço dos estabelecimentos agrícolas do País admite usar agrotóxicos na lavoura, segundo os dados da segunda edição do Atlas do Espaço Rural Brasileiro, publicado nesta terça-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como parte das comemorações dos 100 anos do Censo Agropecuário.
A proporção de estabelecimentos que confirmaram o uso de agrotóxicos saltou 22,9% nos últimos 11 anos, passando de uma fatia de 27,0% das propriedades rurais em 2006 para 33,1% em 2017. Houve aumento em todas as grandes regiões, sendo a maior elevação a do Centro-Oeste, onde a proporção de estabelecimentos que empregavam agrotóxicos cresceu 13,3 pontos porcentuais em comparação a 2006.
Segundo o IBGE, as informações do Atlas apontam, ainda, para a necessidade de mais investimentos “em tecnologia, em práticas de manejo e conservação dos solos e na preservação ou recomposição das áreas de preservação permanente, para a garantia de uma melhor qualidade ambiental e a sustentabilidade dos recursos naturais”.
“No País, 26% de todos os estabelecimentos ainda fazem uso do cultivo convencional, em que, de forma geral, há muita perda de solo”, apontou Luciana Temponi, a engenheira florestal do IBGE, em nota oficial.
Mais da metade dos produtores não utiliza nenhuma das práticas agrícolas em benefício do solo investigadas no Censo Agropecuário 2017, como plantio em nível, rotação de cultura, proteção de encostas, recuperação de mata ciliar ou reflorestamento em área de nascentes.
“Em estados como Rondônia, Tocantins, Mato Grosso e Goiás, mais de 60% dos estabelecimentos não utilizam nenhuma das boas práticas”, completou Luciana, na nota.
O IBGE aponta que apenas 24,2% da utilização das terras nos estabelecimentos do bioma da Mata Atlântica são destinados às florestas, naturais ou plantadas, e às áreas de preservação.
“No Cerrado, considerado o berço das águas, práticas de reflorestamento para proteção de nascentes e recuperação de mata ciliar foram declaradas em menos de 4,0% dos estabelecimentos nos estados de Goiás e Tocantins, centrais do bioma. No Pantanal, em função de suas características ambientais propícias, as pastagens – naturais ou plantadas – representam mais de 67% da área dos estabelecimentos, o maior porcentual entre todos os biomas”, ressaltou o IBGE.
Na Caatinga, 19,9% dos estabelecimentos são ocupados com sistemas agroflorestais, mas a região também tem o maior porcentual de áreas de pastagens declaradas como tendo algum nível de degradação. O Pampa tem 83,5% dos estabelecimentos ocupados com a agropecuária. O bioma Amazônia, que compreende cerca de 49% do País, tem 20% das áreas dos estabelecimentos ocupadas pela produção. “Embora o porcentual da área dos estabelecimentos ocupado por florestas seja, em média, o mais alto entre os biomas, ainda não reflete os 80% a serem preservados, segundo legislação ambiental vigente”, ponderou o IBGE.
Em 2017, 83% dos estabelecimentos agropecuários tinham acesso à rede elétrica, 22% a mais que em 2006. A internet, porém, estava presente em menos de 30% estabelecimentos, embora em 2006 ela alcançasse apenas 1,5% das propriedades.
O Atlas apontou ainda que o turismo rural é fonte importante de receita para alguns proprietários. O levantamento apurou os valores obtidos com outras atividades dos estabelecimentos que não aquelas ligadas à agropecuária, como receitas com desinvestimento, serviços de turismo rural, exploração mineral, atividade de artesanato, entre outras.
O número de estabelecimentos que apresentam outras receitas é substancialmente significativo nos municípios que compõem a Amazônia Legal e o Semiárido Nordestino. O destaque foi o município de Monte do Carmo, em Tocantins, onde 66,2% do total das receitas dos estabelecimentos agropecuários foram compostos por essas outras receitas.
Em Santa Cruz de Minas, em Minas Gerais, 100% dos estabelecimentos agropecuários obtiveram receitas com turismo rural, o equivalente a 50,6% das receitas totais dos estabelecimentos.
O município de Poá, em São Paulo, tinha 24,7% do total das receitas dos estabelecimentos oriundos do turismo rural, mas somente 14,3% dos estabelecimentos locais relataram obter alguma renda com essa atividade.
Em valores absolutos, os estados com maior arrecadação de outras receitas que não da produção agropecuária foram Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.