Pesquisa revela desigualdade de gênero nas tarefas domésticas no Brasil, com mulheres realizando o dobro de horas que os homens.



O tema da redação do Enem 2023 colocou em destaque um problema estrutural brasileiro que está muito claro nas estatísticas do IBGE: a invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022, as mulheres são as que mais sentem o peso das tarefas domésticas e do cuidado com outras pessoas. Enquanto elas dedicam, em média, 21,3 horas semanais para essas atividades, os homens despendem pouco mais da metade desse tempo, com 11,7 horas semanais.

Segundo a PNAD, nove em cada dez mulheres em casa preparam e servem os alimentos, arrumam a mesa e lavam a louça, além de cuidarem da limpeza das roupas. Entre os homens, apenas seis em cada dez se dedicam a essas tarefas. Além disso, as mulheres também têm uma participação superior a 70% em atividades como limpar a casa, pagar contas, fazer compras e pesquisar preços. A participação masculina só supera 70% na arrumação do lar e no pagamento das contas.

No entanto, a participação feminina é bastante reduzida quando se trata de pequenos reparos e manutenção de eletrodomésticos e equipamentos, tarefa realizada por 60,2% dos homens, enquanto apenas 32% das mulheres a realizam. Essa disparidade se mantém mesmo quando os homens vivem sozinhos. Quando eles moram acompanhados ou são responsáveis pelo lar, a realização de afazeres domésticos pelos homens diminui na maioria das atividades. Para as mulheres, não há diferença se elas moram sozinhas ou acompanhadas, pois a maioria delas sempre realiza tarefas domésticas.

Dados do IBGE também revelam que as mulheres pretas têm a maior taxa de realização de afazeres domésticos, com 92,7%. Essa taxa é superior não só em relação às mulheres brancas e pardas, como também em relação aos homens, independentemente de sua cor. Além disso, a realização das tarefas do lar pelos homens aumenta quando eles possuem curso superior completo, chegando a 86,2%, enquanto é inferior entre os sem instrução ou com ensino fundamental incompleto, com 74,4%.

Embora a participação masculina nas tarefas domésticas no Brasil tenha aumentado nos últimos anos, ainda é inferior à das mulheres. Além disso, quando os homens se envolvem nessas atividades, dedicam muito menos tempo do que elas. Em 2019, antes da pandemia, as mulheres dedicavam em média 21,6 horas semanais para o trabalho doméstico e/ou cuidado com pessoas, enquanto os homens destinavam apenas 11 horas por semana. Essa diferença diminuiu para 9,6 horas em 2022.

Em relação ao cuidado com pessoas, a taxa de realização dessa atividade não remunerada caiu de 33,3% em 2019 para 29,3% em 2022, o que corresponde a uma redução de 5,3 milhões de pessoas envolvidas nessa tarefa. Nesse contexto, as mulheres continuam dedicando mais tempo a esse cuidado do que os homens, com uma taxa de 34,9% em comparação com 23,3%.

A pesquisa também revela que a realização desse cuidado é maior entre as pessoas pretas (29,4%) e pardas (31%), em comparação com as pessoas brancas (27,4%). Essa diferença é ainda mais nítida entre as mulheres, sendo que 38% das mulheres pardas e 36,1% das mulheres pretas se dedicaram a esses cuidados em 2022, enquanto a taxa entre as mulheres brancas foi de 31,5%.

Em resumo, as estatísticas do IBGE mostram que as mulheres brasileiras enfrentam grandes desafios em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com outras pessoas. A realização dessas atividades ainda recai majoritariamente sobre elas, enquanto os homens têm uma participação menor e dedicam menos tempo a essas responsabilidades. Essa desigualdade de gênero precisa ser enfrentada e superada para que o trabalho de cuidado realizado pelas mulheres seja reconhecido e valorizado.

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