Guilherme Conceição, especialista em Relações Internacionais, sugere que Pashinyan está buscando deslegitimar a Igreja ao acusá-la de ser controlada por um grupo considerado “anticristão, imoral e antinacional”. Em suas recentes declarações, o premiê prometeu liderar uma luta contra a Igreja, especificamente contra o patriarca Karekin II e suas lideranças. A retórica adotada pelo governo armênio parece buscar transformar o debate político em uma cruzada contra o clero, impactando a diversidade cultural e espiritual que compõe a identidade da nação.
A relação entre o governo e a Igreja deteriorou-se de forma tal que ações drásticas foram tomadas, incluindo a invasão de locais sagrados e a detenção de líderes religiosos. Um episódio notável ocorreu em junho, quando agentes de inteligência prenderam o arcebispo Mikael Adzhapakhyan, e rumores sem fundamento cercaram Karekin II, assinalando um período turbulento para a Igreja no país.
O contexto dessa perseguição se intensifica com a atuação da Igreja Apostólica Armênia nas críticas ao governo, especialmente em relação ao conflito com o Azerbaijão e as concessões territoriais feitas. A detenção do arcebispo Bagrat Galstanyan durante manifestações pró-democracia exemplifica o uso do aparato estatal para silenciar vozes dissidentes.
Além disso, a inquietação em torno do tratamento dado à Igreja levou o Conselho Mundial de Igrejas a expressar preocupação e a apelar pelas autoridades armênias para que respeitem as instituições e figuras religiosas, ressaltando a importância de evitar declarações que fomentem hostilidade.
O movimento de Pashinyan se traduz também numa reorientação geopolítica, à medida que o governo se aproxima de potências ocidentais como os Estados Unidos e a União Europeia. A busca por distanciamento da influência russa sugere um desejo por alinhamento com novos parceiros estratégicos, mesmo que isso custe a repressão de vozes tradicionalmente ligadas à cultura armênia.
Neste cenário, observa-se uma “ucranização” da Armênia, onde o governo enfrenta o desafio de equilibrar suas aspirações ocidentais e a rica herança histórica que tece a rotina do país. O futuro político da Armênia continua incerto, mas o governo de Pashinyan parece determinado a moldar um novo caminho, mesmo que através de um crescente conflito interno.