Partido de extrema direita na Alemanha tenta frear políticas de memória histórica do país em ascensão preocupante.



A experiência de caminhar pelo Memorial aos Judeus Mortos da Europa, em Berlim, é marcada por sensações de desconforto e solidão, como buscado pelo arquiteto Peter Eisenman ao projetar o local. No entanto, para membros do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o memorial é descrito como um “monumento da vergonha”, expressão usada por Björn Höcke, líder de facto da sigla, em um discurso polêmico em 2017.

A fala de Höcke, que desafiou a cimentada cultura de recordação histórica alemã, gerou indignação no meio político e na população tradicionalmente sensibilizada em relação ao passado. Agora, em meio à recente consolidação do partido como o segundo maior no país e com a perspectiva de ganhar ainda mais terreno, a polêmica se torna ainda mais relevante.

Fundada em 2013, a AfD emergiu inicialmente como uma saída para a insatisfação crescente entre alguns setores da população em relação às políticas de austeridade implementadas em resposta a uma crise financeira. No entanto, a legenda, de acordo com o professor de História Moderna Uffa Jensen, vice-diretor do Centro de Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim, tornou-se gradualmente uma “mistura complexa de diferentes grupos políticos”, com uma “clara agenda de extrema direita, nacionalista e racista”.

Ao longo dos anos, os extremistas se tornaram cada vez mais influentes no partido, controlando muitas de suas seções regionais. A agenda do partido questiona a cultura de lembrança da Alemanha, especialmente no que diz respeito ao Holocausto. Para a AfD, o país carrega uma carga “excessiva” de responsabilidade que pode levar a uma “visão negativa da identidade alemã”, sendo necessária uma revisão dessa abordagem.

A AfD tem sido alvo de condenações devido a declarações polêmicas de alguns de seus membros, como o líder Alexander Gauland, que afirmou, em 2018, que “Hitler e os nacional-socialistas não foram mais do que um excremento de pássaro em mil anos de uma História alemã de sucesso”.

A ascensão do partido representa um risco de revisionismo histórico e gera preocupações com a juventude alemã, que demonstra um distanciamento do passado conforme suas conexões familiares com a Segunda Guerra Mundial vão se perdendo.

No cenário político, a AfD tem se fortalecido, obtendo importantes vitórias em eleições regionais nos últimos meses. As justificativas para esse crescimento vão desde questões econômicas até preocupações com a imigração e com gastos em eventos internacionais.

A ascensão do partido gera preocupações além das fronteiras alemãs, com projeções indicando um aumento de assentos no Parlamento Europeu. Segundo especialistas, o contexto atual favorece o populismo de extrema direita não apenas na Alemanha, mas em toda a Europa.

Em meio a esse cenário, a preocupação com a preservação da memória histórica e a manutenção da identidade alemã se tornam mais relevantes do que nunca.

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