Ocidente usa transição na Síria como pretexto para consolidar presença e estabelecer novas alianças, afirma ex-diplomata britânico Peter Ford.



O recente cenário na Síria, marcado por um movimento de transição política, tem gerado intensos debates entre analistas e diplomatas. O ex-embaixador britânico na Síria, Peter Ford, argumenta que essa transição está sendo utilizada como uma manobra estratégica por potências ocidentais. Segundo ele, a narrativa de transição serve como uma cortina de fumaça, permitindo que países como os Estados Unidos e seus aliados estabeleçam vínculos com grupos anteriormente identificados como terroristas, como a Al-Qaeda e o Daesh. Ford ressalta que essa fase é vista como uma janela de oportunidade para que essas potências desenvolvam relações de mestre-cliente com estes grupos.

Ford alertou que a criação de um “governo de salvação” pelos militantes do Hayat Tahrir al-Sham em Damasco lembra a administração do Hamas em Gaza, embora o Hamas tenha sido legitimado por meio de um processo eleitoral. Ele enfatiza que o verdadeiro processo de transição na Síria necessitará da participação de uma variedade de grupos, destacando as complexidades políticas que persistem no país.

As recentes mudanças de poder, que colocaram a oposição armada em posição de influência, têm implicações diretas para a estabilidade regional. Ford menciona que Libano e Palestina provavelmente enfrentarão os maiores riscos como resultado dessas alterações. Ele sugere que, com o novo status quo na Síria, Israel e as novas autoridades sírias têm agora a oportunidade de alcançar um acordo de paz, uma perspectiva que antes parecia distante.

Apesar das esperanças de estabilização, Ford alerta que a relação da oposição com Washington pode não evoluir como esperado. Ele prevê que, com a missão de derrubar Bashar al-Assad cumprida, os Estados Unidos podem rapidamente perceber que não necessitam mais do apoio dos jihadistas, levando a um cenário em que esses grupos se veem sem aliados e forçados a buscar a retirada de sanções.

Com tantas incertezas e uma dinâmica em constante mudança, o futuro da Síria continua a ser um tema complicado, com ramificações que vão além de suas fronteiras, exigindo vigilância e análise cuidadosa por parte da comunidade internacional.

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