A advogada pública Claudia Aparecida de Souza Trindade foi a primeira a falar no julgamento. Ela compartilhou sua história de superação, tornando-se a primeira pessoa de sua família a frequentar a universidade e se formar em Direito. Filha de uma mãe semianalfabeta e de um pai com apenas cinco anos de estudo, Claudia perdeu os pais aos 14 anos e assumiu a responsabilidade por seus três irmãos mais novos. Depois de trabalhar como operária em uma fábrica para sustentar a família, ela foi aprovada para o curso de Direito na Universidade Federal do Paraná e, mais tarde, ingressou na carreira de procuradora da Fazenda Nacional.
Claudia também enfatizou a importância da educação em sua vida, destacando como a educação a resgatou e permitiu que ela trouxesse seus irmãos para um curso superior, além de ajudar a mudar sua classe social. Sua participação no STF foi descrita por ela como a atuação mais importante em sua vida, ressaltando o valor simbólico do resultado do julgamento para a sociedade brasileira e para a população negra como um todo.
A advogada também enfatizou a necessidade de oferecer políticas públicas eficazes em favor da população negra, afirmando que é um passo crucial para mudar o estado de desigualdade no Brasil. A presença do ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, no plenário também foi significativa, uma vez que a AGU, sob o governo de Jair Bolsonaro, era contra a ação. No entanto, houve uma mudança no posicionamento da União, refletindo um gesto simbólico.
Além disso, a advogada pública Alessandra Lopes da Silva Pereira também compartilhou sua história e sua motivação para estudar Direito, destacando como o Direito foi um instrumento para domar a inquietude diante das injustiças. Ela descreveu sua participação no julgamento como uma realização, vendo nele uma oportunidade para o Estado brasileiro saldar uma dívida histórica com a população negra.
É inegável que esses discursos marcaram um momento importante na história do STF e no reconhecimento do racismo estrutural no Brasil. O julgamento representa uma oportunidade para avançar em direção a uma sociedade livre de preconceitos, exigindo o esforço e a cooperação não apenas dos poderes constituídos, mas de toda a sociedade brasileira.