O romance tem como protagonista Maria Expedicionária, uma doméstica que trabalha para uma família de elite. No entanto, apesar de possuir uma personagem principal, a obra é repleta de diversos personagens que representam a multidão que habita essa realidade. Os nomes dos personagens indicam que não estamos em um mundo de Enzos e Valentinas, mostrando a disparidade social presente na história.
Guerra aborda a desigualdade de forma brilhante, apresentando-a de uma maneira orgânica dentro da narrativa. A obra trata principalmente do perdão, da busca por identidade e dos laços de afeto, evidenciando a grande habilidade literária da autora. Além disso, as questões relacionadas à ausência paterna e à falta de pertencimento também são exploradas, ressaltando que ter uma árvore genealógica completa é um privilégio.
A obra ainda apresenta um contraste entre classes sociais, como no caso de Betinho, filho da patroa de Maria Expedicionária, que se sente mais próximo da doméstica do que de sua própria mãe. Essa relação reflete a distância entre “O céu para os bastardos” e “Perifobia”, outro livro da autora, onde a irritação das personagens é mais evidente.
A influência literária de Carolina Maria de Jesus é perceptível na obra de Guerra, especialmente quando a personagem Maria Expedicionária expressa o desejo de ser escritora. Além disso, a autora utiliza sinestesias de forma interessante, criando uma narrativa rica em detalhes sensoriais.
Por fim, a escrita de Guerra é habilmente construída, mesclando memória e tempo presente de forma realista. A autora também aborda de forma simbólica o envelhecimento digno das faxineiras, ressaltando que este também é um privilégio. Com uma narrativa envolvente e um olhar sensível sobre as desigualdades sociais, “O céu para os bastardos” é uma obra que reflete a realidade de muitos e nos convida a refletir sobre questões pertinentes da sociedade contemporânea.