O número de infectados é pelo menos sete vezes maior do que o registrado oficialmente, conforme indicou o primeiro estudo brasileiro do alcance da infecção pelo coronavírus.
De acordo com testes realizados com uma amostra de 4.189 pessoas do Rio Grande do Sul, que tem cerca de 11,3 milhões de habitantes, cerca de 0,05% da população gaúcha deve ter sido contaminada. Assim, o número de pessoas que já teria sido infectada e desenvolvido anticorpos seria de 5.650.
Além disso, nas contas do governo, que costuma testar apenas os casos mais sintomáticos ou graves da doença, o Rio Grande do Sul teria 747 casos.
O projeto de pesquisa, o Epicovid19, é coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) e pelo governo gaúcho. Pesquisadores foram às casas sorteadas e coletaram uma amostra de sangue de um dos moradores, entre 11 e 13 de abril.
Serão feitas outras três rodadas de pesquisa, uma por quinzena, a fim de registrar a evolução da doença. “Em resumo, para cada 1 milhão de habitantes no Rio Grande do Sul, estima-se que existam 500 casos reais de Covid-19, apenas 66 casos notificados e 1,2 mortes”, diz o relatório do estudo. Nas “nove cidades utilizadas na pesquisa, para cada caso notificado, existem ao redor de quatro casos não notificados”.
Além das estimadas 5.650 estimadas pelo estudo –leva dias até o que os contaminados pelo coronavírus desenvolvam anticorpos (em geral, 14 dias depois da contaminação), mais pessoas podem estar infectadas.
Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Caxias do Sul, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Passo Fundo, Ijuí e Uruguaiana, onde vive cerca de 31% da população estadual foram as cidades estudadas.
A pesquisa verificou também que 20,6% dos entrevistados disseram sair de casa diariamente; 58,3% relataram sair apenas para atividades essenciais (ir ao supermercado, farmácia etc.) e 21,1% relataram ficar em casa o tempo todo. Entre os idosos de 60 anos ou mais, 35,9% relataram ficar em casa o tempo todo.
“A tendência é que os números aumentem nas próximas fases, mas a velocidade desse aumento depende das medidas de distanciamento social a serem implementadas. Com base nas melhores evidências científicas disponíveis, é recomendado que as medidas de distanciamento social vigentes no estado devem ser mantidas”, diz o relatório dos pesquisadores.
Os coordenadores do estudo lembram ainda que, “embora a margem de erro geral da pesquisa seja baixa (0,5 ponto percentual), prevalências pequenas, como a observada nessa primeira fase do estudo, devem ser interpretadas com cautela”.
Com a estimativa do número real de infectados, de doentes evidentes e de assintomáticos, será possível projetar ainda quantas UTIs, ventiladores e outros equipamentos serão necessários para tratar os doentes em cada região.