Apesar da crise das emendas que abalou a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, o governo Lula demonstra otimismo com o cenário político para os próximos dois anos. A avaliação nos bastidores é de que a provável eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara e de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para o comando do Senado poderá suavizar os conflitos entre os Três Poderes em Brasília.
Mudança no perfil das lideranças
Os atuais líderes do Congresso, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foram eleitos durante o governo de Jair Bolsonaro, período marcado pelo alinhamento entre o Legislativo e a agenda de extrema-direita, especialmente no caso de Lira. O ex-presidente concedeu ampla autonomia ao presidente da Câmara na condução do orçamento, resultando em falta de transparência na destinação de recursos públicos, um tema que se tornou central na crise das emendas.
Com as mudanças esperadas nas lideranças do Congresso, o governo Lula busca retomar o controle sobre o orçamento federal e reduzir a influência excessiva dos parlamentares nesse processo.
Flávio Dino e a devassa nas emendas
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, indicado por Lula, tem liderado um esforço para revisar e tornar mais transparentes as emendas parlamentares, que foram amplamente utilizadas sem critérios claros durante a gestão Bolsonaro. Essa iniciativa é vista como parte da estratégia do governo para reverter os danos causados pela política de “orçamento secreto”.
Cenário para os próximos dois anos
Aliados do presidente acreditam que a condução de Hugo Motta e Davi Alcolumbre no Congresso será menos conflituosa e permitirá que o Executivo recupere protagonismo na definição do orçamento. Essa expectativa, segundo interlocutores palacianos, sustenta o otimismo do governo Lula para o restante de seu mandato.
Ainda assim, há ceticismo. Observadores políticos apontam que a composição conservadora do Congresso Nacional, com maioria de parlamentares alinhados a pautas econômicas liberais e sociais conservadoras, pode limitar o alcance das mudanças desejadas pelo Planalto.
Um novo capítulo ou mais do mesmo?
Internamente, o discurso no governo é de que a transição de comando no Congresso representa uma oportunidade para reorganizar as relações institucionais e reequilibrar as forças entre os Poderes. No entanto, críticos alertam que as mudanças podem não ser tão significativas, especialmente se o foco permanecer em atender aos interesses dos blocos conservadores que dominam o Legislativo.
Enquanto isso, o governo aposta no diálogo e na construção de alianças para pavimentar um caminho mais estável até 2026, com a esperança de que o Brasil entre em uma nova fase política e econômica.