Estudiosos do tema apontam que a dinâmica de atuação desses grupos segue um padrão estabelecido. Inicialmente, os criminosos utilizam plataformas amplas, onde a presença de jovens é maciça, como um ponto de partida para o contato. Conforme a interação evolui, os alvos são frequentemente direcionados para redes menores, que apresentam menos moderadores e onde o conteúdo nocivo pode florescer com maior intensidade. Essas “alt-techs” ou plataformas alternativas têm sido associadas a uma série de crimes, desde aliciamento até incitação à violência.
Os jogos online, nesse contexto, funcionam como um elo inicial. Após conquistarem a confiança da vítima, os criminosos apresentam um leque de conteúdos mais prejudiciais, como tutoriais que ensinam práticas ilegais e comportamentos extremistas. Michele Prado, especialista em radicalização online, explica que existem plataformas identificadas como “beacons”, onde os traficantes de influência operam e recrutam jovens, utilizando serviços como TikTok e Instagram.
Com a movimentação entre diferentes redes, é comum a realização de chamados “eventos”, que são transmissões ao vivo onde práticas de automutilação e abusos são exibidos. Esses eventos, muitas vezes anunciados previamente para grupos fechados, revelam a impunidade que impera nesses ambientes.
Apesar do reconhecimento do uso potencialmente nocivo dessas plataformas, o combate a esse cenário continua a ser uma tarefa árdua para as autoridades. Criminosos frequentemente transitam entre uma variedade de aplicações, mudando rapidamente para novas ferramentas que não são conhecidas pelos investigadores, tornando a tarefa de rastrear suas atividades um verdadeiro quebra-cabeças.
Nesse contexto, foram sugeridas legislações com o intuito de proteger os jovens. Um exemplo é o Projeto de Lei 5261/2020, que visa restringir a comunicação em ambientes de jogos eletrônicos para menores de 14 anos. A proposta prevê o uso de atrasos no envio de mensagens e a remoção de dados pessoais visíveis ao público. Entretanto, a tramitação desse projeto encontra-se estagnada, deixando os jovens vulneráveis a esse cenário perigoso.
Assim, o desafio imposto pela criminalidade cibernética não se resume apenas à proteção dos indivíduos, mas à construção de um ambiente digital mais consciente e seguro para todos.