Deixando a presidência da Câmara após quatro anos no cargo, o deputado Arthur Lira (PP-AL) afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) age corretamente ao atrelar a reforma ministerial — que contempla partidos do centrão — a um eventual apoio à sua reeleição em 2026. No entanto, Lira pondera que, além de ajustes no primeiro escalão, o governo precisa melhorar o ambiente econômico e a relação entre Executivo e Legislativo para consolidar alianças.
“Uma base de apoio para governar é diferente de uma base de apoio eleitoral. O apoio eleitoral depende de economia e de possibilidades. Ninguém vai embarcar num navio que vai naufragar sabendo que vai naufragar”, declarou o parlamentar em entrevista ao Valor Econômico.
Fiador da aprovação de medidas prioritárias para a agenda econômica, como a reforma tributária e o novo arcabouço fiscal, Lira destacou que o governo enfrenta dificuldades para avançar em projetos de aumento de arrecadação, uma vez que, segundo ele, consolidou-se a percepção de que o governo “só taxa a população”.
Apesar da impopularidade de algumas medidas, o deputado avalia que a reforma do Imposto de Renda, promessa de campanha de Lula, deve ter um caminho legislativo complexo. “Ela tem apelo e até justiça social. Mas como equilibrar? Isso precisa ser discutido no Congresso, e temos este ano para isso”, ponderou.
Ao fazer um balanço de sua gestão à frente da Câmara, Lira ressaltou a importância das reformas aprovadas nos últimos anos, incluindo a independência do Banco Central e a regulação do saneamento. Ele também lembrou que foi uma das primeiras autoridades a reconhecer a vitória de Lula nas eleições de 2022, o que, segundo ele, ajudou a conter eventuais contestações ao resultado das urnas.
No entanto, sua gestão também ficou marcada pelo fortalecimento das emendas parlamentares. O deputado defendeu o instrumento e admitiu a necessidade de aprimorar os mecanismos de repasse dos recursos, mas alertou para o risco de que esse debate evolua para uma crise institucional.
“Quem decide para onde vai o dinheiro decide o poder. Mudou a geografia política. Temos que aprimorar o Orçamento, mas sem criminalizar o processo, pois o Brasil não precisa de crise institucional”, afirmou.
Sobre as emendas de relator, que ficaram conhecidas como “orçamento secreto”, Lira sustentou que a prática sempre existiu e foi regulamentada para garantir maior transparência. Ele também criticou o que chamou de “emenda Pix”, por não ter um objeto pré-definido, e defendeu melhorias nesse modelo.
Lira reconheceu que a reforma administrativa — outro tema de destaque — não avançou por falta de ambiente político adequado, mas afirmou que a proposta pode ser retomada futuramente. “Ela está pronta. Basta trazer para o plenário e garantir os 308 votos necessários”, disse.
Sobre a sucessão na Câmara, Lira indicou Hugo Motta (Republicanos-PB) como seu possível herdeiro político e afirmou que muitas das pautas econômicas e institucionais serão um legado para os próximos presidentes da Casa e do Senado.
O parlamentar também comentou as investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Ministério Público sobre destinação de emendas em vários estados. Para Lira, cada Poder deve cumprir suas funções sem interferência indevida. “Se um juiz ou promotor identifica um problema, ele tem que oficiar. Mas, no final das contas, quando as coisas não estão claras, surgem versões. Quem faz errado, mais cedo ou mais tarde, paga”, concluiu. (Com Valor)