Em resposta às acusações, o gabinete de Moraes justificou que, no decorrer dos inquéritos sobre fake news e milícias digitais, requisitou formalmente diversos documentos a várias instituições, inclusive ao TSE. Segundo nota oficial, todos os procedimentos seguiram os termos regimentais e foram documentados com a participação da Procuradoria Geral da República.
Entretanto, a reportagem destaca que a produção dos relatórios era uma medida frequente para embasar as investigações contra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Esses documentos visavam a identificar publicações que atacassem o sistema eletrônico de votação, os ministros do STF, e incitassem militares contra o resultado das eleições de 2022. A obtenção desses materiais ocorreu via mensagens pelo WhatsApp, abrangendo um total de mais de seis gigabytes de dados trocados entre agosto de 2022 e maio de 2023.
Um dos focos das investigações foram as redes sociais dos apoiadores de Bolsonaro, como o blogueiro Paulo Figueiredo Filho e o comentarista político Rodrigo Constantino. Em mensagens coletadas, Airton Vieira, principal assessor de Moraes no STF, instruía o perito do TSE, Eduardo Tagliaferro, a produzir relatórios detalhados a partir das publicações desses indivíduos. Em uma das interações, Vieira repassou a Tagliaferro a necessidade de ajustes em um relatório, baseando-se em novas publicações adicionais fornecidas diretamente pelo ministro Moraes.
As mensagens revelam que Moraes esteve pessoalmente envolvido na curadoria e direcionamento dos relatórios. Em alguns casos, ele avaliava as publicações e solicitava verificações mais profundas, tencionando determinar se havia base para bloqueios de contas e imposição de multas. Uma das instruções específicas de Moraes direcionada a Tagliaferro referia-se à análise das postagens de Rodrigo Constantino para definir possíveis ações punitivas, incluindo o bloqueio de seus perfis em redes sociais e a aplicação de sanções financeiras.
A reportagem ainda revela que os relatórios do TSE foram diretamente utilizados como base para ordens jurídicas significativas, como o bloqueio de redes sociais e a quebra de sigilo bancário de figuras públicas envolvidas. Em registros internos, constam decisões que citaram ofícios feitos pela AEED do TSE, embora não mencionassem explicitamente que o material fora requerido através de diálogo informal via aplicativo de mensagens.
A nota oficial do gabinete de Moraes reitera a legalidade e regularidade de todos os procedimentos associados aos inquéritos, afirmando que os relatórios descreviam objetivamente postagens ilícitas e estavam, portanto, vinculados às investigações sobre milícias digitais. Além disso, enfatizou-se a continuidade das diligências pela Polícia Federal, todas sob o conhecimento da Procuradoria Geral da República.