A estratégia que tem sido apresentada a Lula pelo ministro Haddad é simples. A meta de déficit zero permitiria um reequilíbrio mais rápido das contas públicas, impactando positivamente o câmbio, a inflação e a taxa de juros. O governo começaria a colher os benefícios imediatamente. Para atingir esse objetivo, existem duas opções: aumentar a arrecadação, como defendido pela Fazenda, ou adotar medidas de contingenciamento, que não agradam a Lula.
Uma terceira opção, proposta pela Casa Civil e alguns membros do PT, é piorar a meta. No entanto, essa alternativa resultaria em um reequilíbrio mais tardio da dívida pública, com impactos negativos sobre o câmbio, a inflação e a taxa Selic.
Durante suas conversas com o presidente Lula, Haddad tem apresentado os três cenários e pedido mais tempo antes de tomar uma decisão. Ele solicita que a escolha seja adiada até março do próximo ano, quando será divulgado o primeiro relatório bimestral de receitas e despesas de 2024. Se houver desequilíbrio orçamentário nesse relatório, serão necessárias medidas de contingenciamento. Por outro lado, se as medidas de arrecadação forem aprovadas, seu impacto pode ser pequeno, preservando a meta de déficit zero.
A situação atual é comparada pelos assessores de Haddad à mudança da meta de inflação de 2026. Lula chegou a decidir que a meta deveria ser aumentada, mas foi convencido no último minuto pelo ministro de que isso poderia prejudicar a redução da taxa Selic pelo Banco Central.
Em uma conversa com jornalistas, Haddad afirmou que só voltará a discutir o assunto “quando houver novidades”. Isso indica que há um risco iminente de mudança na meta, mas o ministro ainda não desistiu dela.
No Palácio do Planalto, o ministro-chefe da Casa Civil, Jorge Costa, defende que a mudança na meta seja feita na próxima segunda-feira, por meio de uma mensagem modificativa à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que será votada na próxima semana. Esse caminho seria o mais rápido, pois depende apenas da vontade do Executivo, que enviou a LDO ao Congresso.
Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, concorda com a posição de Haddad. Ele defende que os esforços sejam direcionados para medidas de arrecadação antes de qualquer mudança na meta. Padilha argumenta que não faz sentido discutir a meta fiscal sem antes concentrar esforços em ampliar a arrecadação e promover justiça tributária no país. Ele ressalta que o governo está comprometido em alcançar o déficit zero no país, como já foi encaminhado na LDO.
Nos bastidores, avalia-se que o relator do Orçamento, deputado Danilo Forte, pode ler o relatório com a meta atual e fazer as alterações necessárias mesmo após a votação. Na reunião com líderes da Câmara, Padilha apresentou uma lista de projetos que precisam ser aprovados e fará o mesmo na reunião com senadores no próximo dia 8.