México Reavalia Participação em Mediação da Crise Venezuelana
O governo mexicano decidiu suspender sua participação na iniciativa diplomática conjunta com Brasil e Colômbia para mediar um entendimento entre o presidente venezuelano Nicolás Maduro e a oposição, após acusações de fraude nas eleições presidenciais do último dia 28.
Nos últimos dias, tanto o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, quanto sua sucessora eleita e aliada, Claudia Sheinbaum, deram declarações que sugerem um possível desengajamento do país na mediação da crise venezuelana. A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, revelou ao diário El País que até agora o México não havia mantido interação com a oposição, ao contrário dos outros dois países envolvidos.
Em sua entrevista coletiva diária, López Obrador indicou que, por ora, não pretende atender a um novo telefonema entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro. O presidente mexicano ressaltou que prefere aguardar a decisão do tribunal eleitoral, que ainda está em processo de deliberação sobre as atas e os resultados das eleições. "Vamos esperar que o tribunal eleitoral resolva, porque ainda está em processo. Creio que na sexta-feira resolverão sobre as atas e os resultados. Então, vamos aguardar", declarou.
Ontem, Lula e Petro mantiveram nova conversa por telefone, cuja pauta ainda não foi divulgada pela Presidência brasileira. O chanceler Mauro Vieira viajou para Bogotá, onde se reunirá nesta quinta-feira com o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Murillo.
O objetivo dos três países é encontrar uma solução para a crise política na Venezuela. Entre as possibilidades discutidas internamente está a convocação de uma nova eleição, uma ideia defendida por Lula, seus ministros e o assessor especial Celso Amorim. Havia também a proposta de diálogos diretos entre os mediadores e as principais figuras políticas venezuelanas, Maduro e o opositor Edmundo González Urrutia.
No entanto, a oposição venezuelana rejeitou categoricamente a ideia de novas eleições, que considera uma manobra de Maduro para se perpetuar no poder. No último fim de semana, María Corina Machado afirmou que a única solução é uma transição pacífica de poder.
Os Estados Unidos já reconheceram a vitória do opositor Edmundo González Urrutia na eleição presidencial, postura seguida por vários países da região, incluindo Argentina, Peru, Equador e Panamá. Brasil, México e Colômbia, por enquanto, têm adotado uma posição mais cautelosa, exigindo de Maduro a divulgação das atas eleitorais. Esses países, com inclinações simpáticas ao regime chavista, vinham insistindo numa abordagem diplomática conjunta para tentar resolver a crise.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime de Maduro, o presidente foi reeleito com 52% dos votos, enquanto Urrutia teria obtido 43%. A oposição, por sua vez, afirma possuir cópias de 25 mil atas que comprovam sua vitória com 67% dos votos, contra 30% de Maduro. Brasil, México e Colômbia não aceitaram esses documentos.
Claudia Sheinbaum, que assumirá a presidência do México em dezembro, apoiou a política externa de López Obrador, enfatizando a importância da transparência e sugerindo que todos os recursos jurídicos na Venezuela, também controlados pelo chavismo, sejam esgotados antes de qualquer interferência externa. "Que cheguem à última instância. Se houver problemas, não cabe a nós resolver", afirmou, destacando a existência de instituições internacionais para esse propósito.