Este acordo é considerado um marco importante, já que os dois blocos econômicos juntos representam aproximadamente 25% da economia mundial, abrangendo 718 milhões de pessoas. O Palácio do Planalto fez questão de enfatizar que este é o maior acordo bilateral de livre comércio existente. Contudo, é crucial ressaltar que a finalização do texto não significa que o acordo já foi ratificado. O documento ainda precisará ser revisado, traduzido e, em seguida, assinado pelos chefes de governo de cada país, além de passar pelas respectivas câmaras legislativas.
Do ponto de vista econômico, a projeção é otimista, com a expectativa de que o Brasil veja um aumento significativo nas suas exportações para a União Europeia, estimado em até US$ 7 bilhões nos próximos anos. Isso se dará pela redução de tarifas sobre diversos produtos, o que, segundo especialistas, pode fomentar um crescimento nas trocas comerciais. No entanto, essa visão positiva é contestada por analistas que levantam questionamentos sobre a sustentabilidade desse acordo no longo prazo para a economia brasileira.
Pesquisadores de economia política internacional expressam preocupações de que o Brasil possa limitar seu desenvolvimento industrial e continuar dependente das exportações de produtos agrícolas, como carne e soja. Este receio é alimentado pela possibilidade de que o Brasil se estabeleça como um “fazendão” para a região, focando exclusivamente na agropecuária, enquanto outras áreas vitais da economia, como a indústria, podem acabar negligenciadas.
Além disso, o acordo pode acarretar desafios para a indústria nacional existente, especialmente considerando a disparidade entre a produtividade das empresas da UE e as brasileiras. As indústrias europeias, com seu nível de tecnologia avançado, podem dominar o novo cenário de livre comércio, potencialmente resultando em um cenário onde a competitividade local seja severamente prejudicada. Por outro lado, há uma divisão entre os interesses dos países membros da UE, como Alemanha e França, que pode atrasar a ratificação do acordo, uma vez que cada nação terá sua própria dinâmica de interesses e pressão de lobbies.
As próximas etapas essenciais envolvem não só a aprovação em nível nacional, mas também a formalização no Parlamento Europeu, onde a complexidade do processo político pode criar brechas para que opositores ao acordo adiem decisões cruciais. Este interregno será uma oportunidade vital para o Brasil refletir sobre que tipo de modelo econômico deseja seguir, uma vez que as políticas atuais parecem se direcionar para uma economia primário-exportadora com pouco espaço para inovação industrial e desenvolvimento sustentável a longo prazo.