Mercosul e União Europeia finalizam acordo de livre comércio, mas especialistas alertam para risco de dependência econômica do Brasil no setor agrícola.

Após um longo período de negociações que se estendeu por 25 anos, os países integrantes do Mercosul e a Comissão Europeia finalmente anunciaram a conclusão dos termos do tratado de livre comércio. O anúncio ocorreu durante a 65ª Cúpula do Mercosul, realizada em Montevidéu, Uruguai, onde estiveram presentes os líderes da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, além de Ursula von der Leyen, presidenta da Comissão Europeia. Embora a Bolívia também integre o Mercosul, sua adesão ao acordo ainda depende da adoção de certos protocolos normativos.

Este acordo é considerado um marco importante, já que os dois blocos econômicos juntos representam aproximadamente 25% da economia mundial, abrangendo 718 milhões de pessoas. O Palácio do Planalto fez questão de enfatizar que este é o maior acordo bilateral de livre comércio existente. Contudo, é crucial ressaltar que a finalização do texto não significa que o acordo já foi ratificado. O documento ainda precisará ser revisado, traduzido e, em seguida, assinado pelos chefes de governo de cada país, além de passar pelas respectivas câmaras legislativas.

Do ponto de vista econômico, a projeção é otimista, com a expectativa de que o Brasil veja um aumento significativo nas suas exportações para a União Europeia, estimado em até US$ 7 bilhões nos próximos anos. Isso se dará pela redução de tarifas sobre diversos produtos, o que, segundo especialistas, pode fomentar um crescimento nas trocas comerciais. No entanto, essa visão positiva é contestada por analistas que levantam questionamentos sobre a sustentabilidade desse acordo no longo prazo para a economia brasileira.

Pesquisadores de economia política internacional expressam preocupações de que o Brasil possa limitar seu desenvolvimento industrial e continuar dependente das exportações de produtos agrícolas, como carne e soja. Este receio é alimentado pela possibilidade de que o Brasil se estabeleça como um “fazendão” para a região, focando exclusivamente na agropecuária, enquanto outras áreas vitais da economia, como a indústria, podem acabar negligenciadas.

Além disso, o acordo pode acarretar desafios para a indústria nacional existente, especialmente considerando a disparidade entre a produtividade das empresas da UE e as brasileiras. As indústrias europeias, com seu nível de tecnologia avançado, podem dominar o novo cenário de livre comércio, potencialmente resultando em um cenário onde a competitividade local seja severamente prejudicada. Por outro lado, há uma divisão entre os interesses dos países membros da UE, como Alemanha e França, que pode atrasar a ratificação do acordo, uma vez que cada nação terá sua própria dinâmica de interesses e pressão de lobbies.

As próximas etapas essenciais envolvem não só a aprovação em nível nacional, mas também a formalização no Parlamento Europeu, onde a complexidade do processo político pode criar brechas para que opositores ao acordo adiem decisões cruciais. Este interregno será uma oportunidade vital para o Brasil refletir sobre que tipo de modelo econômico deseja seguir, uma vez que as políticas atuais parecem se direcionar para uma economia primário-exportadora com pouco espaço para inovação industrial e desenvolvimento sustentável a longo prazo.

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