As mensagens em questão foram enviadas por um integrante da agência a Paulo Maurício Fortunato, então Diretor de Operações de Inteligência da Abin. Em uma das mensagens, o servidor diz ao investigado: “Gente nossa que fez um monte de coisa errada”, e em outra ele menciona “um esforço específico de conversar com o nosso ministro a respeito abrindo tudo o que aconteceu para ele”.
Esses diálogos ocorreram após uma reportagem do jornal O Globo ter revelado, em março do ano passado, que a Abin utilizou um sistema secreto para vigiar alvos selecionados em todo o país durante o governo de Jair Bolsonaro. Em outubro do mesmo ano, a Polícia Federal deflagrou uma operação para buscar provas do uso indevido da ferramenta de espionagem, apreendendo celulares de suspeitos envolvidos no caso.
Recentemente, a PF enviou um relatório ao Supremo Tribunal Federal destacando que “elementos de prova colhidos podem traduzir o intento de embaraçar as investigações em curso, conduta de gravidade ímpar”, o que fundamentou a operação realizada na sede da Abin. Além disso, a ação policial atingiu o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-chefe da agência de inteligência durante o governo Bolsonaro.
Diante dessas acusações, Paulo Maurício preferiu não se manifestar, enquanto a Abin emitiu uma nota afirmando estar colaborando com as investigações e que é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos. Já Ramagem afirmou em entrevista à Globonews que nunca praticou qualquer ilegalidade.
Segundo relatório da PF, há indícios de um “possível conluio” entre os investigados pela suposta espionagem ilegal e a atual gestão da Abin, que se mostram prejudiciais à investigação. A polícia também aponta trechos de depoimentos de integrantes da Abin que afirmaram que a “DG” (Diretoria-Geral) teria convencido os servidores de que “há apoio lá de cima”, sem detalhar a quem se referiam.
Além disso, Alessandro Moretti, então número 2 da Abin, teria realizado uma reunião com os investigados pela PF, ocasião em que teria dito que o procedimento teria “fundo político e iria passar”. A PF também ressaltou que não identificou normativo que autorizasse cidadãos alheios aos quadros da Abin a receberem informações sigilosas relacionadas às diligências em andamento.
Diante dessas graves acusações, Moretti se recusou a falar, alegando que está de férias. A situação colocou a Abin e seus funcionários sob intensa pressão, levantando questionamentos sobre a conduta da agência e suas possíveis ramificações políticas. A Polícia Federal continua a investigar o caso em busca de mais informações e esclarecimentos sobre a utilização indevida da ferramenta de monitoramento.