JUSTIÇA – Justiça Federal suspende cláusulas abusivas de contratos de advogados ingleses na ação sobre desastre de Mariana e protege direitos dos atingidos.

A Justiça Federal de Minas Gerais, por meio da 13ª Vara Federal Cível de Belo Horizonte, emitiu uma liminar que suspende diversas cláusulas de contratos firmados por escritórios de advocacia britânicos que representam, na Inglaterra, vítimas do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco Mineração S.A., ocorrido em Mariana em 2015. Essa decisão vem em resposta a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), que apontou práticas abusivas nos contratos.

Entre as cláusulas suspensas, destacam-se a cobrança de honorários sobre indenizações que já foram pagas aos afetados no Brasil, a imposição de um foro estrangeiro para eventuais litígios e limitações na liberdade dos clientes em decidir sobre acordos ou desistências do processo. Os escritórios envolvidos são a Felipe Hotta Sociedade Individual de Advocacia e Pogust Goodhead Law, ambos com presença na Inglaterra, e a decisão não afeta aqueles que já aderiram ao Programa de Indenização Definitiva (PID) no Brasil.

A juíza federal substituta, Fernanda Martinez Silva Schorr, fundamentou sua decisão ressaltando que a legislação brasileira deve prevalecer nesses casos, afirmando que não tem validade a cláusula que estipula foro em Londres. O entendimento é que as vítimas do desastre enfrentam uma situação de “hipervulnerabilidade”, o que demanda uma proteção especial conforme previsto no Código de Defesa do Consumidor.

Foi determinado também que os escritórios não realizem publicidade que desencoraje a adesão aos programas de indenização brasileiros. Além disso, os honorários calculados sobre indenizações brasileiras devem ser depositados em uma conta judicial até que a questão seja resolvida.

A ação conta com o apoio da Defensoria Pública da União, da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais e dos Ministérios Públicos de Minas Gerais e do Espírito Santo. Em resposta à decisão judicial, o escritório Pogust Goodhead Law informou que seus contratos estão em conformidade com a legislação inglesa e que nunca foram questionados pelas mais de 600 mil pessoas que representam. O escritório também argumentou que a liminar ignora o fato de que o prazo para adesão ao PID já Transcorreu e que nunca recebia valores de seus clientes a título de honorários.

O rompimento da barragem “Fundão”, que ocorreu em novembro de 2015, resultou em um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, atingindo a bacia hidrográfica do rio Doce e afetando gravemente 230 municípios em Minas Gerais e Espírito Santo. Atualmente, o escritório Pogust Goodhead Law representa um grande número de pessoas e prefeituras na busca por justiça contra a BHP Billiton, parceira da Vale na Samarco.

Essa situação ressalta a complexidade das relações contratuais em um contexto de tragédia, trazendo à tona questões éticas e legais que envolvem as indenizações e o papel dos advogados na defesa dos direitos das vítimas.

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