O coronel do Exército, Waldo Manuel de Oliveira Aires, afirmava ser a única testemunha de defesa a favor de Braga Netto e compartilhou sua experiência em uma audiência realizada por videoconferência. Ele relatou a surpresa do general ao tomar conhecimento dos acontecimentos violentos em Brasília, ressaltando que, para eles, a manifestação poderia ter se desenrolado de maneira pacífica, mas a depredação veio como um choque inesperado.
“Creio que para todo mundo foi uma surpresa, porque não esperávamos que ocorresse. A manifestação talvez até fosse normal, mas os atos que depois aconteceram, como a depredação de patrimônio, isso causou certo espanto”, enfatizou Aires. Sua declaração gerou questionamentos do relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, que o interrogou sobre suas postagens nas redes sociais, nas quais defendia uma interpretação do artigo 142 da Constituição que sugere às Forças Armadas um papel de “Poder Moderador”.
Aires, no entanto, evitou discutir questões políticas com Braga Netto. “Sempre evitei conversar sobre assunto de política. Não queria, no relacionamento pessoal, tocar em temas políticos”, declarou.
Ainda na mesma sessão, foi ouvido o delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, que atua como testemunha para Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atualmente deputado federal. A defesa de Ramagem, por sua vez, desistiu de incluir mais testemunhas no processo, incluindo o ex-diretor da Polícia Federal Rolando Alexandre de Souza.
Os eventos em questão estão sendo examinados pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, que iniciou a coleta de depoimentos na última segunda-feira. Entre os réus, além de Bolsonaro, estão outros sete ex-ministros de seu governo e assessores, todos supostamente relacionados a uma trama golpista que, segundo a Procuradoria-Geral da República, teve ele como líder e beneficiário. Hoje, a audiência irá continuar, com novos depoimentos programados para a tarde.
De modo a garantir a integridade das discussões, Moraes proibiu a gravação das audiências, mas permitiu que jornalistas estivessem presentes para acompanhar os depoimentos na sala da Primeira Turma. O desdobramento deste caso promete influenciar não apenas o cenário político atual, mas também o entendimento sobre a legitimidade das manifestações e os limites da atuação militar em contextos civis.