Cunha foi convocado como testemunha de defesa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Esta ação se insere no contexto de um processo que investiga um suposto golpe de Estado articulado por Jair Bolsonaro e seus aliados. Segundo o ex-diretor da Abin, embora o órgão tivesse emitido alertas sobre manifestações previstas para o 8 de janeiro desde o dia 2 do mesmo mês, foi apenas pela manhã daquele dia que se confirmou a intenção dos manifestantes em avançar para o centro político da capital.
“A até a manhã do dia 8, nossos analistas não tinham convicção se efetivamente haveria uma decisão para o deslocamento”, afirmou Cunha, que destacou um ponto crucial: um encontro realizado no acampamento bolsonarista nas primeiras horas da manhã foi decisivo para a interpretação da movimentação. Cunha afirmou que, por volta das 8h50, as fontes de inteligência indicaram o que muitos temiam: a assembleia realizada claramente sinalizou que os apoiadores de Bolsonaro planejavam invadir a Esplanada.
Àquela altura, a Abin já havia notificado o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) sobre a direção que os protestos tomariam. Contudo, Cunha admitiu não ter certeza se essa informação foi repassada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, então sob a direção de Anderson Torres, a qual tinha a responsabilidade de garantir a segurança dos bens públicos.
O ex-diretor explicou que a Abin começou a interagir com a secretaria somente na noite anterior aos violentos distúrbios. A conexão entre a Abin e as autoridades locais, segundo ele, se deu após contato com a subsecretária de Segurança Pública, que também foi alvo das investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) por sua suposta participação nas ações golpistas.
Cunha detalhou que a Abin havia começado a documentar a presença de grupos extremistas uns dias antes dos eventos, identificando movimentos de ameaça desde 6 de janeiro. No entanto, ao ser questionado sobre a eficácia dos alertas emitidos pelo GSI, o ex-diretor esclareceu que não tinha controle sobre o desenrolar das informações após os avisos serem feitos. Ele reafirmou que a produção de relatórios sobre discursos de ódio e ações extremistas vinha sendo realizada desde a transição de governo, com os documentos sendo direcionados ao GSI e à Polícia Federal.
Este depoimento lança luz sobre a complexidade dos eventos que cercaram os ataques de 8 de janeiro, destacando questões de responsabilidade e os mecanismos de segurança em um momento crucial para a democracia brasileira.