O Brasil, diferentemente de países como Argentina e Chile, não passou por uma justiça de transição para lidar com os crimes da ditadura militar entre 1964 e 1985. A anistia oferecida pela lei de 1979 impediu essa discussão. Para Abranches, o fato de que militares ocupando posições civis estejam sendo julgados por um tribunal civil demonstra uma mudança importante no arcabouço jurídico e institucional do Brasil. A postura atual das Forças Armadas frente a esse julgamento também revela uma nova dinâmica após um período de envolvimento político intenso.
O cientista político observa que, enquanto alguns militares na reserva expressam descontentamento, os líderes militares em atividade têm mantido a ordem. Após os desdobramentos problemáticos do governo Bolsonaro, Abranches acredita que o comando militar está se rejuvenescendo e recuperando o controle. Ele afirma que a eventual condenação dos réus poderá representar um divisor de águas, algo que não foi visto antes na história brasileira.
Abranches vê o julgamento como um exemplo para o mundo, especialmente em tempos de ascensão da extrema direita em várias nações. Para ele, esta situação ilustra a possibilidade de deter essa ideologia por meio de ações corretas e do funcionamento das instituições. No entanto, ele critica a situação do Congresso brasileiro, considerando-o disfuncional e incapaz de formar coalizões, um reflexo do quadro político fragmentado.
Além disso, o cientista político menciona o movimento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em direção ao bolsonarismo, um gesto que pode limitar suas opções eleitorais futuras. Abranches sugere que a polarização política, tão aguda até 2022, está diminuindo, refletindo uma mudança nas preocupações da população.
Ele também analisa a relação do Brasil com a política internacional, especialmente no que diz respeito à guerra comercial entre os EUA e China e como isso pode impactar a posição de Lula em um eventual novo pleito. Abranches projeta que as dificuldades enfrentadas por Trump poderão favorecer uma reeleição de Lula, destacando a resiliência da soberania brasileira em um cenário global conturbado.