“O que foi decidido na audiência de conciliação?”, indagou a juíza.
“A senhora juíza, nós decidimos pelo divórcio e toda a papelada já foi preparada. Porém, agora, ela mudou de ideia e se recusa a assinar. Eu quero me separar. Não aguento mais olhar para essa mulher, nem ouvir a sua voz, respondeu Manezinho, com um tom de desespero.
A promotora, então, pediu a palavra e defendeu a posição de Alzira. Ela alegou que Manezinho estava sendo precipitado e influenciado pela mãe. Segundo a promotora, Alzira tratava-o com carinho e amor, e essa história de separação era algo que ele tinha absorvido da mãe, que provavelmente não gostava de Alzira.
A juíza, sem perder a compostura, decidiu conversar com cada um separadamente. Alzira foi orientada a sair da sala. A juíza queria ouvir diretamente de Manezinho o motivo pelo qual ele desejava o divórcio.
“Dr. Juíza, vou contar a história desde que conheci essa maluca. Há dois anos, eu vivia bem com minha mãe em uma casa no bairro Santos Dumont. Solteiro, trabalhava como encanador e eletricista e fiz um curso no SENAC. Sou conhecido na região e não falta trabalho para mim. Coloquei uma placa na fachada da minha casa. Certo dia, recebi um telefonema urgente para consertar um vazamento em uma banheira. Peguei minha moto e fui até uma casa bonita em um sítio próximo. Expliquei para a mulher que o conserto exigiria a retirada da banheira e que eu precisaria da ajuda de um pedreiro. No dia seguinte, terminei o serviço à tarde. Era um sábado. Alzira me pagou pelo serviço e me convidou para tomar uma cerveja. Ficamos conversando, bebendo e comendo até tarde da noite. Quando estava escuro, Alzira dispensou a empregada, trancou a porta e voltou para me abraçar. Ela parecia como se estivesse possuída, me levou para o quarto. Dormi com ela durante toda a noite. Na manhã seguinte, acordei cansado, mas ela queria mais. A partir daquele dia, minha vida mudou. Ela tinha um apetite voraz e constantemente me arrastava para a cama. Além disso, dizia que seus pais eram ricos comerciantes, morava sozinha em Maceió para estudar enfermagem, mas quase não frequentava as aulas. Não quero mentir, estava gostando daquela vida, mas o único problema era aguentar ir para a cama em momentos inimagináveis. Alzira era insaciável, tanto na mesa quanto na cama. Fiquei mais de seis meses vivendo daquela maneira, sendo presenteado por ela constantemente. Ela era ciumenta e não queria que eu trabalhasse ou tivesse amigos. Ela até mesmo proibiu que eu visitasse minha mãe. Um dia, Alzira me deu um carro Honda usado. No entanto, eu não conseguia suportar mais aquela vida cheia de ciúmes e exigências. Tomei coragem e decidi terminar o relacionamento quando ela me deu a notícia de que estava grávida. Alzira queria se casar a qualquer custo, pois o pai ameaçava me matar. Fiquei sem saber o que fazer e conversei com a minha mãe. Apesar de ela não gostar de Alzira, ficou feliz com a expectativa de ter um neto. Cometi o erro de cair em suas chantagens emocionais e me casei. Durante a gravidez, ela me sufocou constantemente, querendo estar na cama o tempo todo, de todas as maneiras possíveis. Finalmente, Euzebinho nasceu e Alzira colocou o nome do pai, Euzébio, sem consultar a mim. Depois do nascimento do menino, o inferno se intensificou. Alzira me tratava aos berros, me chamava de fraco e ainda queria cama o tempo todo. Ela entregou Euzebinho para os pais e continuou vivendo como uma solteira, se envolvendo com outros homens. Eu não aguentei e decidi voltar a morar com a minha mãe. Alzira quase todos os dias me procura, entra no meu quarto e me abraça, mas eu não suporto mais vê-la, sentir seu cheiro ou ouvir sua voz desesperada. Por isso, consultei um advogado e ele me aconselhou a me divorciar. Por favor, senhora juíza, me ajude a obrigar essa mulher a assinar os documentos, implorou Manezinho.
A juíza, convencida da infelicidade e dos conflitos presentes nessa relação, decidiu intervir. Ela chamou novamente o casal ao tribunal e entregou a Manezinho a extensa lista de presentes que Alzira havia dado a ele ao longo do relacionamento, desde um carro Honda até inúmeras roupas e outros mimos. A juíza informou que Alzira assinaria os papéis de divórcio se Manezinho devolvesse tudo o que havia ganhado dela.
Com um sorriso no rosto, Manezinho prontamente respondeu: “Está tudo dentro do carro, até as cuecas velhas eu lavei. Só os perfumes que ela colocava em minhas partes íntimas para cheirar que acabaram.”
A juíza, compreendendo o desespero de um homem em busca da liberdade, dirigiu-se a Alzira e disse: “Duas pessoas não podem viver juntas se uma não quer. Assine esse divórcio, minha senhora. Pelo bem de ambos.”
Então, Alzira assinou as três cópias do documento e entregou-os à juíza. Ao ler o documento, Manezinho sorriu aliviado, olhou para Alzira e a chamou de bruxa tarada. Em seguida, saiu correndo do Fórum, gritando: “Estou livre! Estou livre! Estou livre!” e entrou no primeiro botequim que encontrou pelo caminho.