Especialistas argumentam que o apoio departe significativa da juventude argentina ao governo Milei pode ser atribuído à falta de vivências políticas significativas, uma vez que muitos jovens não têm memórias claras da ditadura militar que assolou o país entre 1976 e 1983. Regiane Bressan, renomada professora de Relações Internacionais, destaca que a desconfiança no sistema político tradicional, agravada por uma longa crise econômica que perdura desde 2002, cria um ambiente propício para a ascensão de discursos que flertam com o autoritarismo. Os jovens, muitas vezes desiludidos com o passado e em busca de soluções imediatas para os problemas econômicos, tendem a se alinhar com propostas que prometem mudanças rápidas, muitas vezes ignorando os riscos associados à erosão democrática.
A política de repressão a manifestações, anunciada pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e a tentativa de criminalização da oposição refletem uma abordagem governamental que gera apreensão sobre os direitos civis e a liberdade de expressão no país. As ações do governo cumprem, assim, um papel decisivo na polarização da sociedade argentina, que se divide entre aqueles que clamam por uma solução rápida e cega e os que defendem a importância da democracia e dos direitos fundamentais.
Por fim, os analistas ressaltam que é fundamental para a sociedade argentina permanecer alerta, considerando que a trajetória histórica do país inclui episódios de forte repressão política. O apoio à retórica libertária de Milei, que muitas vezes se opõe ao “politicamente correto”, revela uma juventude que busca identificação em alternativas à política tradicional, mas que precisa ser orientada para compreender a complexidade das instituições democráticas. Nesse contexto, a gestão de Milei, marcada por posturas ambíguas em relação à democracia e à economia, levanta questões sobre o futuro das liberdades civis na Argentina e as potenciais consequências para a estabilidade regional da América Latina.