A vacina contra COVID-19 desenvolvida pela Janssen — o braço farmacêutico da Johnson & Johnson — necessita de uma só dose, segundo consta da bula. Mas, significativamente, essa dose única pode ser menos eficaz contra as variantes Delta (B.1.671.2) e Lambda (C.37) do coronavírus SARS-CoV-2. Pelo menos é o que aponta um preprint — estudo que não foi revisado por pares —, feito por pesquisadores norte-americanos, cuja conclusão ainda não é consenso.
As descobertas dos pesquisadores da Universidade de Nova York (NYU) foram feitas a partir de experimentos com amostras de sangue em laboratório. Em outras palavras, elas podem não refletir o desempenho da vacina no mundo real, onde as pessoas imunizadas contam com outras proteções, além dos anticorpos neutralizantes. Independente dessas limitações, os autores sugerem a aplicação de uma segunda dose da fórmula contra a COVID-19.
Contraponto
O estudo dos pesquisadores aponta para a necessidade de uma segunda dose da vacina da Janssen contra as novas variantes do coronavírus, o que é justificado pela menor capacidade de neutralização dos seus anticorpos em estudos in vitro. No entanto, a descoberta se contrapõe com o estudo apresentado pela própria farmacêutica.
Divulgada no início deste mês, a avaliação da Janssen era de que o imunizante mantinha sua eficácia contra a variante Delta com uma alteração não encarada como significativa. Dessa forma, a dose única continuava a ser o modelo de imunização recomendado. Além disso, a vacina manteve eficácia por até 8 meses após a aplicação, segundo o mesmo estudo.
Por outro lado, o grupo de pesquisadores da NYU concluiu que a vacina da Janssen pode ter uma eficácia semelhante a uma dose única da Covishield (AstraZeneca/Universidade de Oxford). Dessa forma, novos estudos devem se realizados no mundo real para se confirmar a descoberta.
O que o novo estudo com a Janssen descobriu sobre a variante Delta?
Após as análises, “os resultados demonstram um alto nível de neutralização cruzada por anticorpos induzidos por BNT162b2 [fórmula da Pfizer/BioNTech] e mRNA-1273 [da fórmula da Moderna] nas variantes, mas diminuiu significativamente a neutralização por aqueles induzidos pela dose única de Ad26.COV2.S [vacina da Janssen]”, relatam os pesquisadores no artigo.
“É provável que os níveis de anticorpos neutralizantes contra as VOCs [variantes de preocupação, como a Delta] produzidos pela dose única da Ad26.COV2.S [vacina da Janssen] poderiam ser melhorados, de forma semelhante, por reforço com uma segunda imunização ou por um reforço heterólogo com uma das vacinas de mRNA”, ponderam os autores da pesquisa. “Embora uma vacinação de dose única tenha vantagens, o benefício proporcionado por uma segunda imunização pode compensar o inconveniente”, completam.
Para acessar o preprint sobre a eficácia da vacina da Janssen contra a variante Delta do coronavírus, publicado na plataforma bioRxiv, clique aqui.