Os acadêmicos ressaltam que essa interferência significativa não apenas infringe normas do direito internacional, mas também pode acentuar a instabilidade em regiões já frágeis. Segundo eles, o foco real por trás da ação parece ser o controle sobre as vastas reservas petrolíferas venezuelanas, ao invés da motivação alegada de combate ao tráfico de drogas. Um dos estudiosos, Roberto Goulart Menezes, da Universidade de Brasília, expressou que o impacto pode ser devastador não só para a Venezuela, mas para toda a América Latina, sinalizando que os Estados Unidos podem estar ansiosos para estabelecer um protetorado em Caracas, controlando o que ocorre ali.
Camila Vidal, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, afirmou que a intervenção direta dos EUA na Venezuela é uma questão grave, especialmente considerando a posição geográfica do país em relação ao Brasil. Ela advertiu que, caso Maduro seja deposto, isso pode gerar uma guerra civil, trazendo consequências diretas não apenas para a Venezuela, mas para os países vizinhos, exacerbando a polarização política e social.
Rodolfo Queiroz Laterza, historiador e especialista em conflitos armados, também destacou as implicações da ação norte-americana. De acordo com ele, essa pode ser uma estratégia que pode facilmente ser replicada contra outras nações latino-americanas que não se alinham aos interesses dos EUA. Essa perspectiva gera um estado de alerta não apenas em países como Brasil e Colômbia, mas em toda a região, dado o potencial para um ciclo de instabilidade.
Além disso, o que parece motivar as ações dos EUA nessa circunstância é, em grande parte, uma questão geoeconômica. A Venezuela detém a maior reserva de petróleo do mundo, e a quero de influência sobre essas riquezas exacerbada pela rivalidade entre potências globais torna-se um fator determinante nas ações de Washington. A retórica de combate ao narcotráfico, portanto, é vista por muitos especialistas como uma justificativa superficial, margens que assinalam um interesse estratégico mais profundo em influenciar a governança na região.
Desde a ascensão dos chavistas em 1999, as relações entre Caracas e Washington têm sido conturbadas, passando por períodos de tensão e sanções econômicas. Com a reeleição de Maduro, as pressões sobre o governo venezuelano só aumentaram, refletindo a constante luta pelo controle da narrativa e dos recursos na América Latina.
A situação atual exemplifica não apenas a vulnerabilidade da Venezuela, mas também a complexidade das relações globais no século XXI, onde interesses geopolíticos e econômicos frequentemente se sobrepõem à soberania das nações, com potencial para desatar conflitos de larga escala.