A queda drástica no volume de financiamentos realizados por meio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) refletiu diretamente na forma como trabalham as imobiliárias mineiras. Se antes o corretor estava focado na captação e na venda do imóvel, hoje cabe a ele uma série de novas funções. Trata-se de uma verdadeira mudança de perfil do profissional. A quantidade de autônomos trabalhando em algumas redes também foi reduzida, segundo especialistas do setor. Por outro lado, para ganhar mercado, as redes estão ampliando o nicho de atuação.
Em julho deste ano houve uma queda de 42,7% na quantidade de empréstimos, quando comparada a igual mês do ano passado. A retração do sistema financeiro, que ficou mais seletivo na concessão de financiamentos e derrubou as vendas de imóveis, fez com que o mercado se adequasse à nova realidade do país, conforme afirma o diretor de Desenvolvimento Profissional da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Indústrias do Mercado Imobiliário em Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Eduardo Drumond Brito Vieira.
De acordo com ele, hoje o profissional imobiliário precisa possuir conhecimentos profundos a respeito de todo o processo de compra, venda e aluguel de imóveis. Desta forma, fica mais difícil perder a venda. “É necessário que o corretor entenda tudo sobre financiamentos, conheça os planos e saiba apresentar a melhor proposta para o cliente”, comenta o diretor.
Ele ressalta que a redução do percentual de financiamento por parte da Caixa de 80% para 50% do valor total, no caso de imóveis usados, fez com que outros bancos se destacassem no mercado. “Existem bancos que financiam até 90% do valor total. O bom corretor sabe disso e oferece as linhas”, afirma.
Outra estratégia utilizada para melhorar as vendas do setor foi ampliar o foco das empresas. Com 110 imobiliárias no Brasil e mais de 50 em Belo Horizonte, a rede Netimóveis passou a atuar no segmento hoteleiro. “Fechamos longas permanências nos hotéis, que nada mais é do que um contrato de aluguel”, explica Vieira, que acumula a função de diretor-executivo da rede Netimóveis. Hoje, a rede é parceira da rede Bristol, mas o executivo adianta que outras bandeiras hoteleiras devem ser representadas pela Netimóveis em breve.
No futuro, ele afirma que os shoppings serão a bola da vez. “Há uma dificuldade na locação dos espaços dos malls. Temos interesse nesse ramo também. Vemos como uma oportunidade”, comenta.
Empresário diz que não há espaço para especulação
Enquanto a Netimóveis amplia os nichos de atuação, a rede Imvista, que possui 140 imobiliárias no Brasil e 108 em Minas, aposta na redução do quadro de corretores e na especialização dos profissionais para garantir a venda.
“Agora o corretor capta o imóvel, efetua a venda, acompanha o cliente e também é responsável pela parte de contratos, o que antes era função de um gerente. Ele passa por capacitação para adquirir todos esses conhecimentos”, afirma o presidente da rede para o Brasil, Eduardo Novais. Segundo ele, o corretor tem o papel de “consultor imobiliário”. “É um profissional mais qualificado, mais perspicaz”, diz.
Novais afirma que com a mudança no perfil, houve um redução na quantidade de profissionais que atuam como corretores na rede Imvista. Em 2014 eram aproximadamente 900. Atualmente, são 600.
Nas três imobiliárias da rede Gold, com atuação na Pampulha, também houve um enxugamento de profissionais do setor de vendas. Antes, eram 45. Agora são 36, conforme afirma o proprietário da empresa, Giovani Baroni. Ele ressalta que o mercado está mais maduro e que não há espaço para a especulação de preços, coisa comum no passado.
O presidente da Caixa Imobiliária e da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Kênio de Souza Pereira, explica que os lançamentos em Minas Gerais foram interrompidos e que o objetivo das empresas é comercializar o estoque que sobrou dos anos anteriores.
O sócio da Lopes Consultoria Imobiliária, Fernando Antunes, ressalta que essa flexibilidade faz com que o momento seja oportuno para investidores e para quem quer entrar no mercado. “Hoje o mercado é do comprador. Por isso, os investidores estão voltando aos imóveis. Eles sabem que no futuro haverá uma valorização maior”, diz.
Fonte: Hoje em dia.