Haitiano relembra terremoto devastador de 2010 e os desafios da reconstrução em um país marcado por tragédias e instabilidade política.



Em um dia que começou como qualquer outro, 12 de janeiro de 2010, a vida de Robert Montinard e de muitos outros haitianos mudou drasticamente em poucos segundos. O terremoto de magnitude 7,3 na escala Richter devastou Porto Príncipe, a capital do Haiti, deixando atrás de si um cenário de destruição e desespero. Montinard, que naquele dia estava em casa com sua família e um amigo músico, viu sua vida desmoronar à sua frente. “Parecia uma bomba caindo em cima da casa”, relata ele com a memória ainda fresca do horror vivido.

Nos momentos caóticos que se seguiram ao tremor, Robert percebeu que a devastação ia além de sua própria casa. O bairro inteiro estava coberto de escombros e a tragédia se desdobrava a cada novo relato que recebia sobre a situação em sua cidade. Um dos seus filhos ficou preso sob os destroços, e sua luta pela sobrevivência começou. Ele passou dois dias sem comunicação, abrigado em um campo de futebol, cercado por mortos e outros sobreviventes.

Após esses dias angustiantes, Montinard foi finalmente levado de moto até um aeroporto, onde, juntamente com sua esposa e um dos filhos, foi evacuado para a Ilha de Guadalupe. Lá, recebeu atendimento psicológico antes que a questão física fosse abordada, evidenciando as feridas emocionais profundas deixadas pela tragédia. Três dias após sua chegada, ele recebeu a notícia de que seu filho, dado como desaparecido, havia sido resgatado com vida. Esse pequeno alívio foi um dos poucos momentos de esperança durante um período marcado por dor e perda.

Mesmo após ser tratado e voltar ao Haiti, a situação continuava crítica. Além da destruição, o país foi atingido por epidemias como a cólera. O clima de instabilidade fez com que Montinard, diante da perspectiva de um futuro incerto, decidisse deixar sua terra natal e buscar novas oportunidades. Em dezembro de 2010, chegou ao Brasil, inicialmente como um turista em busca de cura emocional, mas rapidamente se viu fazendo do Rio de Janeiro seu novo lar.

A adaptação não foi fácil e, até 2016, Montinard enfrentou as dificuldades de viver sem documentação, dependendo de ajuda de organizações religiosas para sobreviver. Reconhecendo a necessidade de apoiar outros imigrantes que enfrentam desafios semelhantes, ele fundou a Fundação Mawon, que visa promover direitos e ajudar na integração de imigrantes e refugiados no Brasil.

Após 14 anos desde o terremoto, Montinard ainda luta contra as dificuldades enfrentadas no Brasil, onde a busca por trabalho formal e reconhecimento das suas qualificações se tornou uma batalha diária. Ele reflete sobre a experiência de ser um imigrante e a realidade da discriminação racial que muitos têm que lidar, destacando que, para os negros, o racismo é uma triste constante na vida no Brasil.

As dificuldades do Haiti em se reerguer após o terremoto de 2010 também são um assunto de ampla discussão. O país já lidava com problemas estruturais profundos e a instabilidade política, além de um histórico de intervenções internacionais que deixaram suas instituições vulneráveis. Monte-nard se transforma em um símbolo de resiliência, não só pela superação pessoal, mas pela perspectiva de que é necessário olhar para a história complexa do Haiti para entender suas lutas contínuas e o eventual futuro em meio a desafios multivariados.

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