Governo Federal Lança Projeto para Substituir Gás de Cozinha por Biogás em Áreas Isoladas

O governo federal está avançando com um projeto piloto que visa a implementação de biodigestores para substituir o tradicional gás de cozinha em áreas residenciais isoladas. A iniciativa visa transformar resíduos orgânicos em biogás, eliminando a necessidade de gás liquefeito de petróleo (GLP) em regiões distantes dos centros urbanos.

O foco inicial do projeto são as “cozinhas solidárias”, estruturas gerenciadas por movimentos sociais e regulamentadas por uma lei de 2023. Estima-se que existam cerca de 4 mil dessas cozinhas espalhadas pelo Brasil, das quais 700 foram consideradas adequadas para a implementação dos biodigestores. A previsão é que 100 dessas cozinhas recebam os equipamentos até o fim de 2025.

Os biodigestores são sistemas relativamente simples e adaptáveis, adequados para promover a autossuficiência em combustível nas comunidades, uma vez que utilizam matérias orgânicas como restos de alimentos e fezes de animais para a produção de biogás. Esse biogás é gerado durante o processo de decomposição e é utilizado para alimentar as chamas dos fogões. O projeto é coordenado em conjunto pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).

Contudo, existem desafios a serem superados. Atualmente, os principais modelos de biodigestores disponíveis no mercado são importados, não personalizados e bastante caros. Existem apenas duas variações: um modelo grande que custa cerca de R$ 20 mil e um modelo pequeno por aproximadamente R$ 13 mil. Apesar do custo elevado, a aquisição do biodigestor é única, e não há uma estimativa clara sobre a sua vida útil.

Estudos preliminares indicam que, para uma comunidade pequena, 60 quilos de esterco de animal e 13 quilos adicionais de restos de alimentos seriam suficientes para produzir biogás por uma semana. O financiamento do programa está em fase de estudo. A busca por parcerias com o setor privado é citada como uma alternativa, tomando como exemplo a instalação de biodigestores em 20 escolas mineiras pelo consórcio Codanorte.

Ainda não há um modelo de financiamento definido ou a promessa de recursos do governo federal para este projeto, nem estímulos para que distribuidoras de energia se envolvam. As “cozinhas solidárias” fornecem refeições gratuitas para pessoas em situação de vulnerabilidade e insegurança alimentar, sendo muitas delas mantidas por movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

A expectativa do MME é que, nos próximos anos, o mercado brasileiro evolua com novos modelos de biodigestores, incluindo aqueles que podem utilizar diferentes tipos de materiais orgânicos. A personalização dos equipamentos, de acordo com as necessidades específicas de cada residência ou centro comunitário, também é um objetivo futuro.

Paralelamente, a Universidade de São Paulo (USP) também desenvolve um projeto de biodigestores utilizando reatores de agitação contínua, que trituram resíduos para produzir biogás e fertilizantes, promovendo uma economia circular. A lógica é substituição gradual do GLP por biogás, tornando o combustível mais acessível e sustentável.

Em resumo, o projeto de biodigestores do governo federal está em fase experimental e pode evoluir para uma política pública regulamentada, marcando um importante passo para a sustentabilidade e autossuficiência energética em áreas isoladas do Brasil.

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