Ricardo Caichiolo, professor de relações internacionais, assinala que já em setembro a Alemanha fez uma movimentação semelhante, evidenciando que a ascensão de partidos de direita na Europa está impregnando as decisões políticas sobre imigração. O debate sobre a capacidade dos países da UE de lidar com o fluxo crescente de imigrantes, muitas vezes oriundos de regiões em conflito como a Itália, intensifica-se. Os analistas ressaltam que embora muitos imigrantes busquem refúgio em busca de segurança, a percepção negativa em relação a eles se solidifica em meio a uma retórica que os associa a problemas sociais e de segurança.
A crescente popularidade da extrema-direita é um fenômeno que transcende as fronteiras dos Países Baixos, sendo palpável em outros estados europeus, excluindo, em grande parte, os países nórdicos. Caichiolo observa que o perfil do eleitorado jovem, frequentemente inclinando-se a apoiar políticas de direita, é um indicativo da transformação dos valores sociais na Europa contemporânea. Isso, por sua vez, provoca um retrocesso nos direitos e na segurança dos imigrantes e refugiados, contradizendo os princípios fundamentais do bloco que garantem a proteção dessas populações.
Natali Hoff, professora de relações internacionais, alerta que a construção da imagem do imigrante como uma ameaça não é um fenômeno recente. Essa associação remonta aos atentados de 11 de setembro nos EUA e se acentuou no contexto da crise migratória que emergiu em 2015, ampliando a perspectiva de segurança nas políticas migratórias. O uso exacerbadamente frequente de controles de fronteira, que deveriam ser uma exceção, torna-se uma norma, evidenciando uma crise na integração europeia. A nova realidade mostra que o espaço Schengen, uma das grandes conquistas da União Europeia, é cada vez mais limitado por essas políticas restritivas. Assim, as medidas de controle fronteiriço não só reconfiguram a paisagem política da Europa, como também repercutem nos direitos fundamentais e na própria identidade europeia.